Uma prioridade absoluta
J.-M. Nobre-Correia
Imprensa : A situação calamitosa e cada vez mais grave a que chegaram os jornais em Portugal supõe que se tomem medidas de urgência em prol da democracia…
Imprensa : A situação calamitosa e cada vez mais grave a que chegaram os jornais em Portugal supõe que se tomem medidas de urgência em prol da democracia…
Os
últimos dados referentes à imprensa anunciados pela APCT (Associação Portuguesa
para o Controlo de Tiragem e Circulação) são calamitosos ! Tão simples como isto
: com a exceção do mais vendido, os outros diários obtêm resultados de difusão
idênticos aos do minúsculo Luxemburgo. Com esta ressalva importante : o
Luxemburgo tem 525 mil habitantes e Portugal conta 11 milhões (21 vezes mais) !
Só
que, no Luxemburgo, há um programa de ajuda pública à imprensa. Em Portugal, os
“responsáveis” políticos continuam a ignorar a situação calamitosa da imprensa.
E a nada fazer para que, nesta matéria, o país possa situar-se à altura daquilo
que pretende ser : um país da União Europeia, económica e politicamente desenvolvido.
Até porque não há democracia no sentido pleno da palavra (cultural e socialmente)
sem uma imprensa com alto nível de penetração. Sem uma informação de qualidade.
A
verdade é que a história mostra que, desde que a imprensa apareceu na Europa,
os meios dirigentes em Portugal sempre se opuseram ao seu desenvolvimento. E
nunca tomaram grandes iniciativas para que as gentes deste país pudessem estar
ao corrente da atualidade e ser cidadãos. Melhor (…ou pior) : as classes
dirigentes decidiram governar sem o povo e continuam a não querer que ele se
meta em assuntos que só a elas dizem respeito ! Admiremo-nos depois que o
Estado democrático esteja como está, que os partidos políticos funcionem como
funcionam e que a corrupção seja o que é…
Países
há em que a situação da imprensa (em papel ou em digital) preocupa os políticos.
Assim em França, onde o governo estuda autorizar as empresas jornalísticas a
adotarem o estatuto de sociedades sem fins lucrativos. O que lhe permitiria
constituir “fundos de dotação” e recolher dons privados “desficalizados”. Não
haverá por aí políticos e cidadãos afortunados que considerem que a promoção de
uma informação pluralista com um profundo enraizamento na sociedade é condição
essencial para o desabrochar de uma autêntica democracia ?…
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 3 de maio de 2014, p. 44.