Uma arma absoluta


J.-M. Nobre-Correia
Economia : Quando os média perdem “o sentido das responsabilidades”, os meios dirigentes dispõem de um instrumento todo poderoso, geralmente decisivo…

Os jornalistas não são necessariamente grandes democratas amadores de pluralismo. Geralmente, são sim amadores de personagens que fazem declarações estrondosas. E, no caso da televisão, adoram os que criam um clima de espetáculo e de polémica contundente. Pouco lhes importa, no plano político, que o que dizem esses personagens seja interessante, coerente, plausível. O que é preciso é “animar a malta” e fazer subir a parte de audiência da estação…

As televisões privadas espanholas estão assim a dar grande importância ao líder de Podemos, que obteve 7,97 % dos votos nas eleições europeias. Sucesso tanto maior e inesperado que este partido político foi constituído em março, dois meses e meio antes do escrutínio. Só que o governo de direita conservadora no poder não aprecia nada que Pablo Iglesias, o líder de Podemos, apareça tão frequentemente nos ecrãs, sobretudo na Cuatro e na La Sexta

Diversos dirigentes do Partido Popular fazem assim chegar ao primeiro ministro propostas para acabar com esta “benevolência” para com o “intruso”. Até porque estão habituados a que o sistema mediático pratique um pluralismo favorável aos “arco governamental”. Ou, na melhor das hipóteses, um pluralismo alargado aos pilares tradicionais do juancarlismo. Proposta de choque : reintroduzir a publicidade na pública Televisión Española (TVE).

Com tal iniciativa, as televisões privadas sofreriam grandes perdas. E há até quem pense que poderiam passar a ser deficitárias. Pelo que a manobra seria muito simples : alguém próximo do primeiro ministro diria aos dirigentes dos grupos proprietários (Mediaset e Atresmedia) que seria inevitável reintroduzir a publicidade na TVE. Dadas as dificuldades financeiras do país e a impossibilidade de continuar a fazer cortes nos sectores da saúde e da educação. Os dirigentes dos ditos grupos compreenderiam então que seria necessário afagar o governo e afastar os “intrusos”. Ou como a fragilidade económica dos média pode ser posta ao serviço dos que detém o poder…


Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 14 de junho de 2014.

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