Um potencial a explorar
J.-M. Nobre-Correia
África : Apesar da revolução das
telecomunicações e das novas configurações acionísticas das empresas, os média
continuam a ignorar cegamente os países lusófonos…
Tem-se falado
muito nas últimas semanas do português como ”terceira língua europeia no
mundo”. E até como primeira “no hemisfério sul”. Mas de pouco ou nada tem
servido este estatuto nas estratégias editorial e comercial dos média
portugueses. Não se aproveitaram os formidáveis desenvolvimentos das
telecomunicações para procurar implantar a imprensa nos países que têm o
português como língua oficial. As iniciativas em rádio e em televisão são
modestas. E a internet tem pura e simplesmente sido descurada.
Quando se pensa em
implantação dos média portugueses no mundo lusófono, é aliás no Brasil que
antes do mais se pensa. Só que, no Brasil, os médias tradicionais (imprensa,
rádio e televisão) apresentam um nível de desenvolvimento superior aos de Portugal.
Pelo que só um investimento muito pesado e uma forte originalidade editorial
poderiam levar média portugueses a conseguir conquistar o mercado brasileiro.
Mas, nos países
que têm o português como língua oficial, há os africanos, que apresentam um
evidente potencial de expansão. Porque as elites e as nascentes classes médias
não se satisfazem com os média locais (em termos de informação como de
divertimento). E porque estes mesmos meios sentem a necessidade de uma
informação vinda da Europa, em termos de conteúdos como de maior independência
editorial e liberdade de expressão.
Os franceses
compreenderam isto no que diz respeito ao continente africano. Havia já o
semanário Jeune Afrique, Radio France Internationale, as
televisões TV 5 Monde, France 24 e Africa 24, e os sítios de informação Slate Afrique e Le Point
Afrique. Sediada em Lião, Euronews
vai lançar Africanews (que emitirá
nomeadamente em português), o grupo Lagardère prepara Gulli Africa (para os jovens, também em português) e Canal +
um A + africano (a partir da
Costa do Marfim). Le Monde em linha
prepara uma secção África para o fim do ano e Le Figaro um sítio específico. Mas, apesar da presença de capital
africano, os média portugueses continuam à espera…
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 12 de julho de 2014, p. 43.