Os parâmetros da nova equação
J.-M. Nobre-Correia
Média : O papel foi durante cinco séculos e meio o seu suporte tradicional. Pelo
que a imprensa escrita aceitou mal a mutação para o digital. Sobretudo a local
e regional cujas potencialidades são no entanto reais…
A imprensa escrita encontra-se num momento crucial
da sua história. Há até quem se interrogue sobre a sua eventual sobrevivência.
E sobretudo se, numa era de mundialização, a imprensa local e regional terá
ainda futuro.
Mas, que mudou afinal nestes últimos dois decénios
? O papel deixou de ser o suporte único da imprensa escrita. Graças à internet
e à digitalização, os jornais puderam deixar de ser impressos e de recorrer a complexas
estruturas de distribuição. Paralelamente, ao texto e às imagens estáticas, passaram
a poder propor sons e imagens animadas. E outra mutação fundamental : deixaram
de ser “fechados” em dia fixo, a hora(s) fixa(s), para poderem realizar-se em
tempo real, acompanhando os desenvolvimentos da atualidade.
Do papel para a internet
Num primeiro tempo, os jornais em papel procuraram
ignorar a internet. Depois, passaram a pôr lá os mesmos textos ou apenas alguns
deles, sem mais. Cometendo um erro estratégico com repercussões duradoiras e
trágicas : o acesso aos conteúdos era gratuito. Queriam assim aumentar a
audiência, de modo a aliciar publicitários e anunciantes. Mas fizeram perder
valor ao conteúdo editorial…
A esta crise das receitas das vendas e das
assinaturas, veio juntar-se a da publicidade. Porque muitos investimentos
publicitários (e muito particularmente os “classificados”) foram transferidos
para a internet. E, mais recentemente, assistiu-se a uma queda global destes
investimentos como consequência da crise dos “subprimes”.
Evolução tecnológica e queda das receitas
provocaram uma profunda crise da imprensa escrita, com o desaparecimento de
muitos jornais em papel, por vezes prestigiosos e centenários. Crise também presente
nos sectores da rádio e da televisão, mas particularmente notória na imprensa
escrita.
A informação em tempo real não constituía uma
novidade para a rádio e a televisão, capazes de praticá-la há largos anos. Mas constituía
uma novidade absoluta para a imprensa, habituada às demoras da composição, da
maquetagem, da impressão e da distribuição.
Graças à internet e ao digital, as fronteiras
tradicionais entre média desapareceram, todos eles tendo agora a possibilidade
de produzir textos, sons e imagens animadas. Mas também de propor aos
internautas ligações para complementos de informação e de documentação. Ou de
acompanhar a atualidade, as fronteiras da periodicidade de origem tendo
igualmente desaparecido.
Todo e qualquer média deixou também de estar
confrontado aos limites técnicos da difusão geográfica e passou a dispor
teoricamente de leitores, ouvintes ou espectadores em todas as partes do mundo.
As fronteiras geográficas desapareceram e, para além da barreira das línguas,
qualquer internauta pode acompanhar a atualidade num país estrangeiro ao mesmo
tempo que um cidadão deste mesmo país.
Na nova “aldeia planetária”
O mundo é agora uma “aldeia planetária”. Mas,
paralelamente, os cidadãos sentem uma necessidade mais forte de ancoragem no seu
meio imediato, no seu próprio “quintalzinho”. Pelo que os média locais e
regionais têm resistido melhor do que os “nacionais” à mundialização da
informação.
Porém, estes mesmos média locais e regionais
compreenderam mais tarde do que os nacionais a urgência em lançar edições
digitais. Até porque dispõem geralmente de menos meios financeiros para
proceder a uma mutação que supõe equipas com competências diversificadas e, no caso
da imprensa escrita, uma adequação a conteúdos áudio e vídeo.
Mas, com a expansão da internet, numerosas
instituições e empresas passaram a utilizá-la para difundir os seus
comunicados. E o leitor tomou consciência que muitas vezes os média locais ou
regionais pouco mais propunham do que “comunicação”, sem tratamento
jornalístico nem valor acrescentado.
Ora, os leitores só estão dispostos a pagar por
jornais (em papel ou em digital) que lhes proponham conteúdos largamente
inéditos, em termos de factualidade, perspetivação e análise. Com o devido rigor
dos factos e a desejável estética da escrita e da ilustração. E assumindo a
indispensável função democrática de contrapoder…