Os diários aqui ao lado…


Média : A abordagem da situação atual da imprensa em Portugal seria bastante mais significativa se se tivesse o cuidado de a inserir no contexto europeu. Ou pelo menos no da imprensa da vizinha Espanha…

Pouco se escreve de verdadeiramente sério sobre a imprensa portuguesa. Lá se vão lendo umas coisitas sempre muito orientadas, instrumentalizadas, sobre os dados de difusão (“circulação”) e de audiência : cada jornal diz então que as coisas vão mais ou menos mal para os outros e mais ou menos razoavelmente bem para ele próprio ! Ou então lêem-se por vezes umas coisitas também quando há mudanças na direção de um jornal. Ou se houver uns despedimentos em massa. E pouco mais. Para não dizer mesmo : e praticamente nada mais.
Por exemplo : foi por aí publicada alguma informação e análise sérias sobre as recentes valsas de nomes nas direções do Diário Económico, da Visão, do Sol e do I ? Porquê tais mudanças ? Que significado têm ? Ou até situações como estas : porque é que aparecem estas novas figuras de “diretores executivos” em posição de número 2 no Expresso e de número 3 no Sol ?… Mistério !...
Recuo e perspetiva
De qualquer modo, todas estas informaçõezitas quando são dadas, são-no em estilo mais ou menos telegráfico. Sem recuo no tempo. Sem perspetivação. Situando nomeadamente a evolução da imprensa portuguesa num contexto europeu. Ou pelo menos, procurando estabelecer uma comparação com a situação da imprensa espanhola. Passemos sobre a valsa dos diretores, de há ano e meio para cá, no El País e no El Mundo, por exemplo. Mudanças no entanto com significado não só político mas também editorial. Mas como vai a imprensa espanhola em termos de vendas ? Como resiste ela à crise geral das edições em papel dos jornais ?
Digamos imediatamente que a situação é má, bastante má. Até porque a crise económica em Espanha tem também produzido os seus efeitos, levando os leitores a comprar menos jornais, “produto de luxo” cada vez mais caro. E os números da Oficina de Justificación de la Difusión ilustram bem esta situação : em sete anos, entre 2007 (ano que precede a crise económica e financeira) e 2014 (último ano completo), os seis diários generalistas nacionais (El País, El Mundo, La Vanguardia, ABC, El Periódico e La Razón) perderam 44,7 % da difusão paga.
Mais concretamente : em 2007, a difusão paga média destes seis diários era de 1 540 613 exemplares ; em 2014, era apenas de 815 907. Quase metade ! E a crise continua : nos primeiros quatro meses de 2015 (de janeiro a abril), as vendas situavam-se nos 801 660 exemplares. O que quer dizer que (em comparação com os resultados do primeiro quadrimestre de 2014), a erosão prossegue ao ritmo de 8 %.
Outro dado significativo : em 2014, a queda das vendas atingiu os 11,8 % em quiosque (“banca”), mas apenas 5,1 % em assinaturas. O que quer dizer que a erosão diz sobretudo respeito aos compradores de números avulso, caraterizados pela irregularidade do ato de compra. Mas também que o leitores fiéis ao “seu” jornal e com um poder de compra que lhe permite suportar o pagamento antecipado de uma assinatura, são menos atingidos pela crise económica e, desde logo, renunciam menos a este “produto de luxo” que é o diário.
Fusão e deceção
Porém, a crise das vendas traduz-se de maneira diferente de um diário generalista para outro : de 2007 para 2014, El País passou de 435 083 para 259 775 exemplares, El Mundo de 336 286 para 149 684, ABC de 228 158 para 128 660, La Vanguardia de 213 413 para 140 176, El Periódico de 174 649 para 92 163 e La Razón de 153 024 para 81 449. Números que explicam as repetidas tentativas de fusão entre os editores dos diários madrilenos de direita El Mundo, ABC e La Razón, mantendo-se os barceloneses La Vanguardia e El Periódico alheios a estas movimentações. Enquanto que a evolução editorial de El País de posições tradicionalmente de esquerda progressista para uma nítida abertura à direita liberal tem manifestamente levado muitos leitores a renunciar àquele que fora o “seu” jornal preferido…

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