Ousar estratégias que se impõem…
J.-M. Nobre-Correia
Para o mediólogo, professor emérito da Université Libre de Bruxelles, há
que dar à agência Lusa uma nova e
desejável ambição
Depois ter vivido quatro anos em Lisboa, onde casou, Charles-Louis Havas,
regressou a França e anos depois, em 1835, fundou a primeira agência de
informação da história : a atual Agence
France Presse. Outras apareceram depois ao longo do século XIX na Europa e
nos Estados Unidos. E hoje a grande maioria dos países dispõem no mínimo de uma
agência nacional.
O universo das agências de informação é extremamente diversificado : entre
a agência mundial e a local, entre a de informação geral e a especializada,
entre a plurimédia e a monomédia. No caso das agências nacionais de informação
geral, há países demograficamente comparáveis que fazem opções diferentes : o
caso de Belga que, com apenas 100
jornalistas, produz um serviço em francês e outro em neerlandês, e não conta
nenhuma delegação no estrangeiro ; e o caso de Lusa, com 280 jornalistas e delegações em 24 países estrangeiros.
Há porém diferenças fundamentais de estatuto destas duas agências. Se os
principais média belgas têm condições financeiras que lhes permitem assinar agências
estrangeiras que propõem serviços em francês ou em neerlandês, o mesmo não
acontece com a grande maioria dos média portugueses. E a presença histórica da
Bélgica no mundo é suficientemente recente e limitada para que no resto do
mundo se esteja à espera de uma informação com essa proveniência, quando a
presença histórico-cultural de Portugal, da língua portuguesa e de portugueses
no mundo é considerável.
A necessidade de uma grande agência de informação em língua portuguesa
salta pois aos olhos de qualquer conhecedor do mundo dos média. A agência Lusa sofre porém de patologias muito
incapacitantes : o Estado como acionista maioritário (o que é de natureza a
facilitar instrumentalizações por partidos no poder) ; uma reduzidíssima
presença de média no seu capital (só Global Média e Impresa têm presença
significativa) ; total ausência de clientes não-média ; acionistas com origem
apenas no território nacional.
A inserção geopolítica da Lusa é porém
de natureza a que possa vir a ser a grande agência em língua portuguesa. Do
momento em que saiba fazer entrar no seu capital uma sociedade representativa
dos média regionais portugueses, uma outra dos meios empresariais, uma terceira
dos interesses dos diferentes países lusófonos. Caso necessário, esta última
poderia mesmo resultar de sociedades representativas, por exemplo, de diferentes
regiões do mundo.
Outra etapa de desenvolvimento é concebível : a entrada no seu capital das transnacionais
espanhola, Efe, e italiana, ANSA, agências de países cuja presença
migratória e cultural no mundo tem caraterísticas em muitos aspetos comparáveis
às de Portugal. Desta conjunção do mundo lusófono e de dois grandes países
latinos poderia surgir uma segunda grande agência mundial europeia ao lado da
francesa AFP, em face das
estado-unidenses AP e Reuters.
Quando tudo no mundo dos média e da informação evolui a uma velocidade vertiginosa,
decisões há que têm que ser tomadas a tempo, se não quisermos ser cilindrados
por uma mundialização frenética e devorante… E não é reduzindo a indemnização
compensatória do Estado que a Lusa
poderá ter uma salutar ambição…
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