Uma entrevista desperdiçada…
J.-M. Nobre-Correia
Média : Poderia ter sido um grande momento de informação dos cidadãos. Mas isso
supunha que as regras elementares do género jornalístico fossem observadas de
modo a permitirem uma abordagem séria da atualidade…
Não é todos os dias que um primeiro
ministro dá uma longa entrevista a uma televisão, seja qual for o país da
Europa ocidental. E quando isso acontece o(s) jornalista(s) encarregado(s) da
entrevista procura(m) fazer que ela marque seriamente a agenda jornalística e
política. Nada disso aconteceu porém com a entrevista dada esta noite por
António Costa à televisão pública.
Confrontado durante 50 minutos a dois
diretores adjuntos da informação, assistimos a uma entrevista dececionante. Uma
entrevista largamente desperdiçada em que um diretor adjunto, debutante em
matéria de audiovisual, pretendeu mostrar que conhecia muito bem os assuntos e
as respostas a dar às perguntas que fazia. Dito de outro modo : um debutante de
idade madura armado em sabichão, interrompendo constantemente o entrevistado,
incapaz de uma qualidade indispensável para um entrevistador : saber ouvir o
que o entrevistado tem para dizer…
Ao lado do debutante manifestamente
incompetente em matéria audiovisual, outro diretor adjunto mais ponderado,
menos intempestivo, mas a quem só os possíveis conflitos interessavam.
Conflitos possíveis entre o governo e os seus aliados parlamentares da
esquerda. Conflitos provavelmente camuflados com o líder do maior partido de
oposição. Conflito potencial enfim com o presidente da República. Tradução de
uma certa conceção do jornalismo em que os seus profissionais procuram
absolutamente trazer à luz do dia rivalidades, confrontações, se possível desencadeando-as…
Cinquenta minutos depois, nada de bem
substancial ficou da entrevista com o primeiro ministro. Porque não era essa a
preocupação dos diretores adjuntos. E muito menos era preocupação deles
procurar fazer melhor compreender aos cidadãos como vai o governo da Nação :
seria aliás pedir de mais a entrevistadores que procuravam “show” e “scoops”…
Texto publicado no blogue A Vaca Voadora, Lisboa, 5 de dezembro de 2016.
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