Era uma vez o 'Jornal do Fundão'…
J.-M. Nobre-Correia
Média : Quando um semanário de tradição republicana se põe repetidamente a
“cobrir” factos de nula importância referentes a um regente agrícola que
pretende ser “herdeiro da coroa portuguesa” (sic)…
Setenta e dois anos depois, a história do Jornal do Fundão está ainda por escrever.
Esperando que, se algum dia o vier a ser, o seja por alguém competente em matéria
de história e de imprensa. E, esperemos, que o seja então de maneira
multifacetada, à imagem daquilo que foi a história do jornal. E não, de
preferência, de maneira unidimensional como tem sido o caso desde há largos
anos, por conveniência (no caso de conhecedores no Fundão e arredores) ou por
ignorância (daqueles que pensam tudo saber, sobretudo dos lados de Lisboa).
Mas se há uma caraterística que parece ter
atravessado a história do Jornal do
Fundão (salvo análise mais aprofundada sobre o assunto) é o do seu
republicanismo. Ora, eis o Jornal do
Fundão em três números recentes a cobrir visitas de “D. Duarte Pio” (sic),
“Chefe da Casa Real Portuguesa” (resic, e em maiúsculas !) a aldeias do Fundão…
Duarte Bragança é um pobre regente
agrícola que, por conveniência, decidiu brincar aos principezinhos num daqueles
contos de fadas que faz as delícias dos adoradores da Causa Monárquica. Não
querendo estes de modo algum darem-se conta que o “ancien regime” está morto e
bem morto, que já ninguém acredita que os reizinhos o sejam por unção de um deus-nosso-senhor-todo-poderoso,
e representantes dele na Terra.
É evidente que o “pretendente ao trono” é
contestado por muitas e boas razões até nos próprios meios monárquicos. E que o
pobre regente agrícola, a quem nunca se ouviram pronunciar senão banalidades
mais ou menos ocas e tontas, prefere não saber que vivemos em República há mais
de um século. E nada leva a crer que possa haver alguma mudança de regime em
perspetiva, nem em favor dele, nem em favor do miúdo que ele e os da laia dele
designam por “Dom Afonso” (sic) !!!
Tudo isto não impediu o presidente da
Câmara Municipal do Fundão, eleito da República, ter andado a servir de
cicerone ao autoproclamado reizinho que nunca fez nada na vida, em momento
algum da história nacional. Levando-o nomeadamente até Castelo Novo, de que “o
herdeiro da coroa portuguesa” (sic, como proclamam nada mais nada menos do que
duas escreventes do Jornal do Fundão),
um pouco mal educadamente, disse não gostar das obras feitas no castelo — como
ouviu quem assistiu ao delicioso espetáculo de commedia dell’arte.
Estamos assim. O presidente da Câmara
Municipal do Fundão, que nem sempre tem disponibilidade para receber os seus
concidadãos, tem todo o tempo para acompanhar um regente agrícola fora do ativo.
E o Jornal do Fundão, na edição da
semana passada deu nada menos do que meia página e um título a cinco colunas à
visita do dito regente agrícola.
Haverá quem diga no que se refere ao Jornal do Fundão que a visita de Duarte
Bragança era notícia : não, perdão !, quem fez do assunto anódino notícia foi o
Jornal do Fundão. Quando o dito Jornal do Fundão se tem “esquecido” de
tantos e tantos assuntos de atualidade local verdadeiramente significativos, da
demissão forçada de um vice-reitor de uma universidade à constituição como arguidos
de um presidente de executivo e de um presidente de assembleia municipal, entre
outros exemplos recentes. Quando este último exemplo até deu lugar a uns dois
terços de página do semanário lisboeta Expresso.
Digamos, ironicamente, que esta ignorância
de acontecimentos locais diversos só pode ter sido fruto de um falhanço na
recolha dos factos de atualidade da semana. Pois não é pensável sequer imaginar
que tal ignorância tenha sido consequência de uma miopia de circunstância
voluntária da parte da redação do Jornal
do Fundão e/ou da sua direção interina !…
O "Jornal do Fundão"só tem em comum uma outra publicação que teve o mesmo nome há umas décadas atrás. Tudo o resto não é motivo de comparação. O que existiu... jaz morto e arrefece!
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