Vivemos num país formidável ! 2

J.-M. Nobre-Correia
Ordens :Vivemos de facto num país formidável : a sorte que nós temos !…
E eu é que vivi quase toda uma vida (mais de 45 anos) num país atrasadito ! Um país que, é certo, foi historicamente o segundo na Europa a iniciar o processo de industrialização. De velha tradição democrática. Que nunca conheceu censura desde a sua independência. E que só a universidade em que estudei e trabalhei conta o dobro de prémios Nobel de Portugal inteiro.
Mas um país que, apercebo-me agora, não tem a felicidade de contar, como Portugal, com um sem número de corporações que usufruem de formidáveis regalias e ultrapassam claramente a suas razões de ser teóricas, funcionando como perturbadores permanentes da vida política do país…
A propósito do “Dia da Saúde”, o Diário de Notíciasde hoje abre as suas colunas ao “bastonário da Ordem dos médicos”, à “bastonária da Ordem dos enfermeiros” e à “bastonária da Ordem dos farmacêuticos”. E, na mesma área, ainda lá faltam pelo menos a dos médicos dentistas e a dos nutricionistas…
Diz-nos aliás a Wikipédia que há nada menos do que 18 ordens profissionais em Portugal : ah !, grande país ! No miseravelzito país em que vivi apenas ouvia falar de longe em longe da ordem dos médicos e da ordem dos advogados. É possível que houvesse mais uma ou outra ordem, mas não se ouvia sequer falar dela.
Mas mais do que isso : em Portugal, zés-espertos há que descobriram esta maneira de não se sujeitarem a horários e regras de trabalho de simples empregados. E de ganharem muito bem a vidinha deles : assim, segundo o Públicode ontem, o bastonário da Ordem dos médicos poderá vir a receber em breve uns modestíssimos 6 231 euros ilíquidos : coisa de somenos, não é verdade ? Pois, mas acrescentem lá mais as despesas de representação, para deixar o salário do senhor bastonário totalmente disponível…
Em resumo : ordens e “bastonariados” são belas máquinas de agradável descanso e de fazer um não menos agradável dinheiro. Mas há mais… Diz a Wikipédiaque, no “ordenamento jurídico português”, uma ordem é “uma entidade pública de estrutura associativa representativa de uma profissão que deva ser sujeita ao controlo do acesso e exercício, à elaboração de normas técnicas e deontológicas específicas e a um regime disciplinar autónomo por imperativo de tutela do interesse público prosseguido”.
Todos nós sabemos porém que andam por aí toda uma série de ordens a fazer de grupos de pressão, quando não de sindicatos-bis ou de minipartidos políticos. Enquanto os senhores bastonários e as senhoras bastonárias, verdadeiros líderes de contestação, vão desfilando alegremente pelos média e mais particularmente pelas televisões, sempre dispostas que estas estão a servir-lhes generosamente a sopa…

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