Do grau zero da “análise”

J.-M. Nobre-Correia

Miguel Sousa Tavares ou a indigência de um certo “colunismo” de “comentador” todo-o-terreno…
Estamos assim: Miguel Sousa Tavares, grande especialista em todas as matérias (política nacional, política internacional, economia, finanças, ecologia, futebol…) propôs aos leitores do Expressode sábado passado um texto em que fala nomeadamente do Alqueva sob o título “A Catalunha e Espanha” !
Para além disto, Sousa Tavares não propõe a mínima informação inédita nem a mais ténue argumentação sobre o tema anunciado pelo título. Antes se limita a alinhar insultos a “intelectuais — alguns do tipo pronto-a-vestir e pronto-a-aderir”, muitos dos quais professores universitários reconhecidos internacionalmente, que ousaram publicar no Públicode 23 de abril um manifesto assinado por 63 individualidades : “Pela democracia e pelas liberdades na Catalunha” [i]. Assim como ao “anterior chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, do PP, a quem, entre outras debilidades, a inteligência não favorecia particularmente”, que aliás é também tratado de “inepto Rajoy”. Ou ao “triste personagem chamado Carles Puigdmont” que tem também direito a um “patético Puigdemont, desde então em conveniente exílio” (Sousa Tavares que nunca foi exiliado sabe evidentemente do que fala). Ou ao “nosso omnipresente Boaventura Sousa Santos” (muitíssimo menos omnipresente do que Sousa Tavares nos média portugueses, mas bem mais conhecido no estrangeiro). Ou, de certo modo, a “Pedro Sánchez, um inesperado líder do PSOE”. Enquanto, segundo Sousa Tavares, “Pablo Iglesias, foi o mais calmo e o mais vazio de todos. Aliás, o mais dececionante, a começar pela sua postura datada e gasta de esquerdista de café”, quando, consultados por uma folha madrilena chamada El País, quatro em oito “politólogos, consultores e professores” consideraram que ele tinha sido o melhor no primeiro debate televisivo entre líderes e oito que tinha sido o melhor no segundo debate (mas “alguns” destes oito deviam ser “do tipo pronto-a-vestir e pronto-a-aderir” na elegante estilística do colunista-comentador todo-o-terreno).
Sousa Tavares, especialista em tudo, que mete demasiadas vezes “a foice em seara alheia” (a terminologia é dele), e sobretudo em “seara” que ignora, deve ter-se esquecido que escreve para um semanário de referência. O que, manifestamente, lhe acontece cada vez mais, esquecendo, com efeito, que a vacuidade de uma prosa entremeada de insultos não é exatamente o que os leitores esperam como informação e argumentação da parte de um “colunista”…


[i]Manifesto de que fui um dos autores.

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