Catalunha : as razões de uma retirada

No Público desta manhã apareceu um manifesto pela Catalunha intitulado “Contra a judicialização da política”, assinado por quatro autores e subscrito por várias dezenas de pessoas. Na realidade, este manifesto tinha na origem cinco coautores, sendo eu um deles. Como já tinha sido aliás o caso com o manifesto intitulado “Pela democracia e pela liberdade na Catalunha” publicado no mesmo jornal em 23 de abril.
A explicação para o facto do manifesto de hoje ter apenas quatro autores é simples. Preparado desde sábado 12, na perspetiva da sentença que seria pronunciada na segunda-feira 14, o texto final foi-me submetido na manhã de sexta-feira 18, pouco antes de ser endereçado ao Público. Descobri então que o manifesto era subscrito por quatro dirigentes da Fenprof, entre os quais Mário Nogueira. Note-se que, salvo um único caso, a Fenprof é o único sindicato (ou federação) a estar representado entre os subscritores.
Ora, eu considero há muito que Nogueira é um provocador raivoso da legalidade e um ativo tóxico da esquerda e da democracia portuguesas. Que a Fenprof é de facto uma organização de desordeiros cujo principal objetivo é fragilizar o ensino público e favorecer assim o ensino privado. E, tendo eu vivido mais de 45 anos no estrangeiro e regressado a Portugal há sete anos, não quero nem posso ignorar, nem esquecer o nefasto papel de desestabilização permanente que joga Nogueira, contrário à afirmação de uma esquerda sólida, papel de que resulta o reforço da direita em Portugal.
Como percebi muito rapidamente que uma tal vedeta omnipresente nos média e sobretudo na televisão (facto de que as redações são altamente responsáveis) tinha sido solicitada e que, por isso mesmo, não seria retirada da lista dos subscritores, resolvi retirar o meu nome do grupo dos coautores. É certo que, como me fez reparar um dos coautores, era Nogueira e os seus que subscreviam o nosso texto e não eu que aderia a um texto dele.
Não posso, porém, suportar a ideia que Nogueira se intrometa em iniciativas de esquerda democrática para branquear a sua imagem de violador permanente da legalidade democrática. Um indivíduo largamente rejeitado, felizmente, pela gente deste país e nomeadamente por gente de esquerda deste país…
Tenho por mim que um manifesto que toma posição sobre um tema de caráter político não poder ser um espaço aberto onde venham abrigar-se pessoas pouco ou mesmo nada recomendáveis. Até porque isso descredibiliza inevitavelmente o próprio manifesto e os seus autores.
J.-M. Nobre-Correia, professor emérito de Informação e Comunicação na Université Libre de Bruxelles

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