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A mostrar mensagens de abril, 2020

Há entrevistas e "entrevistas"

J.-M. Nobre-Correia Ver entrevistas nas televisões portuguesas é assistir a tristes espetáculos de gente que se toma por toureador ou treinador de futebol… Eu sonho com o dia em que um personagem de primeiro plano (na política, na economia, na sociedade, na cultura…) que, ao ser entrevistado numa televisão portuguesa e esteja a ser constantemente interrompido, se levante e diga: eu pensava que vinha aqui para ser entrevistado, mas como é(são) o(s) senhor(es) que me está(ão) a expor as suas(vossas) opiniões sobre o assunto e a impedir-me de explicar o que quero dizer, e até mesmo a não permitir-me sequer concluir as frases que procuro pronunciar, peço desculpa, mas tenho mais que fazer e vou-me embora. E que abandone então ostensivamente a sala ou o estúdio… Talvez o(s) dito(s) entrevistador(es) experimente(m) então um sentimento de vergonha e vá(ão) procurar um manual de jornalismo para tentar(em) saber em que consiste exatamente uma entrevista e que regras deverão ser tecnicame

Uma desgraça nacional

J.-M. Nobre-Correia Nestes anos de democracia, foi criado um sem-número de ordens. Há que nos interrogarmos sobre a sua verdadeira função… Há uma desgraça, uma horrível desgraça que descobri no meu regresso a Portugal, depois de ter vivido toda a minha vida profissional no estrangeiro: as chamadas “ordens profissionais”. E há ordens para toda e qualquer profissão (ou quase)! Sem que se saiba por vezes o que poderá bem ser a função de tais ordens em tais profissões. E pior do que isso: há profissões que só podem ser exercidas se o candidato a um posto de trabalho tiver o indispensável reconhecimento pela respetiva ordem. E sobretudo, claro, se pagar as exigidas quotas. Dois verdadeiros escândalos nacionais!… Depois há os bastonários, personagens que fazem algumas vezes carreira na política partidária ou que ambicionam entrar futuramente na vida política. Enquanto vão tomando iniciativas que são clara e prioritariamente de caráter sindical. E alguns deles, pelo menos, vão levand

Decisões a contracorrente

J.-M. Nobre-Correia O Global Média reduz salário e horário dos redatores do  Diário de Notícias : é isso que vai melhorar a situação do jornal?… Com raríssimas exceções, os editores de jornais fazem sempre uma muito má aposta quando reduzem o número de jornalistas de uma redação e os meios de que dispõem os ditos jornalistas para produzirem boa informação. Para recolher factos e opiniões de atualidade, verificá-los, contextualizá-los, interpretá-los e propor análises dos ditos factos e opiniões. Isto porque, com a ressalva das raríssimas exceções (jornais onde a abundância de jornalistas e de meios é manifesta, onde há gente que já nada produz e um evidente esbanjar de dinheiro), a redução de gente e de meios repercute-se sempre no conteúdo dos jornais. Desde logo, assiste-se naturalmente a uma vaga de leitores que vai deixando de ler e de comprar o jornal. Porque o jornal tem menos páginas e menos a ler, porque desapareceu tal rubrica ou matéria especializada particularmente

No reino dos hipócritas

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J.-M. Nobre-Correia É bem sabido: os “responsáveis” de base não são responsáveis de coisa nenhuma. E só sabem apontar o dedo para cima… Lembram-se dos grandes incêndios florestais de há dois, três anos? E de como população e autarcas consideravam não terem responsabilidade absolutamente nenhuma no assunto? Se as florestas não estavam limpas, não era culpa deles! Se havia queimadas sem controlo, umas brasitas acesas para um churrasco ao ar livre, uns cigarritos acesos deitados pela janela do carro fora, não tinham sido eles, mas sim outros! Outros, outros, não especificados, evidentemente. E claro, no fim de contas, era notório que o responsável pela catástrofe só podia ser o governo da República! Com esta brilhante demonstração, tivemos então direito a uma série de autarcas, envergando uniforme  ad hoc , a porem-se em bicos dos pés perante as câmaras de televisão e demais jornalistas. Primeiro para dizerem, em tom mais ou menos agitado, que sempre foram uns autarcas impecáveis.