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A mostrar mensagens de maio, 2020

Melhores dias terão que vir…

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J.-M. Nobre-Correia Com a recente “ajuda aos média” perdeu-se a oportunidade de abordar o fundo da questão da pobreza da imprensa… Estranho ballet a que assistimos há meia dúzia de meses em torno dos média! Ou é o presidente da República que, na sua obsessão de omnipresença, pede para que o Estado os ajude. Ou são o Sindicatos dos Jornalista e a Associação Portuguesa de Imprensa que vão a Belém mendicar ajudas (como se vivêssemos em regime presidencial). Ou são patrões dos média (com proprietários por vezes de países democraticamente pouco recomendáveis) que desfilam na Presidência da República a estender a mão ao Estado. Ou é o próprio governo que mete um pouco os pés pelas mãos, atribuindo ajudas sem previamente esclarecer os critérios adotados e corrigindo depois a grelha anunciada. Ou são até alguns que publicamente pedincharam e dizem agora que, não Senhor, como grandes liberais que são, visceralmente anti-Estado, não pediram nada, o dito Estado não tendo sido generoso com el

As palavras como traição

J.-M. Nobre-Correia Há sempre qualquer coisa de estranho quando um média fala de um cidadão estado-unidense dizendo ou escrevendo “afro-americano”. Mas, claro — já repararam? —, nunca dizem ou escrevem um “euro-americano”!… No primeiro caso, trata-se de um “negro”: é isso que os média nos querem significar. No segundo caso, não o qualificam com um prefixo porque se trata de um estado-unidense “branco”, que faz parte do grupo étnico que globalmente detém o poder económico, político e militar. Depois, as raras vezes que os média têm que falar daqueles que são os verdadeiros americanos, que têm historicamente como origem a América, o continente americano, chamam-lhes “índios”… O que quer dizer que os termos que os média utilizam nunca são neutros. São muitas vezes fruto de uma mera inconsciente irresponsabilidade, atribuível até à pura ignorância. Porque os termos que os média empregam são de facto traiçoeiros e traduzem, com maior ou menor subtileza, uma maneira de nos propor um

Aquelas coisas que se vão repetindo…

J.-M. Nobre-Correia Em matéria de imprensa, fazem-se para aí afirmações totalmente desprovidas de fundamento. Mas a gente do meio quer lá saber disso… Em reação a um texto intitulado “Grupo de cidadãos pede urgente classificação do arquivo do  DN ”, aparecido esta manhã no  Público , Pedro Tadeu publica esta tarde um interessante artigo no  Diário de Notícias  em linha. Tadeu ocupou postos de responsabilidade na direção do  Diário de Notícias  e assina o dito artigo como “diretor da Direção de Documentação e Informação da Global Media Group”, o grupo proprietário do jornal. No dito texto, Tadeu faz no entanto uma afirmação que é uma velha lengalenga a propósito do  Açoriano Oriental : “o mais antigo diário da Europa, fundado em 1835”. Afirmação que não tem fundamento algum. Há uma vintena de anos, o então diretor Gustavo Moura (falecido no ano passado) escreveu-me para Bruxelas, pedindo-me para eu lhe confirmar tal estatuto de “mais antigo diário da Europa”. Respondi-lhe com

O culpado é bem conhecido!

J.-M. Nobre-Correia Estes telejornais, à hora do almoço ou do jantar em família, são uma provocação que suscita irritação …ou sorrisos amarelos! Ver um telejornal português às horas das principais refeições constitui um momento perigosamente favorável para uma suprema irritação …ou para provocar amargos sorrisos amarelos! Eu resumo: esta pandemia que por aí anda é manifestamente obra do governo. Não há dúvidas! Sabe-se lá até se não foi o próprio governo que fez importar esse tal coronavírus… Mas o que é claro é que o governo tem gerido muito mal esta pandemia (digam lá o que disserem os média de referência estrangeiros: nós é que cá vivemos!)! Quem sabe bem o que se passa e diz tudo claramente sobre o assunto são essas ordens e esses sindicatos todos que por aí há. Sobretudo os seus formidáveis bastonários, presidentes e demais secretários gerais. Tudo gente altamente competente em tudo e desta feita competente em virologia e infetologia. É verdade que nenhum deles tem a inte

Uma magnífica reportagem!

J.-M. Nobre-Correia É raro, muito raro, mas por vezes acontece. E a RTP, numa iniciativa pessoal de um seu jornalista, mostra-nos um país desconhecido… A RTP passou ontem na segunda parte do seu telejornal das 20h00 uma magnífica reportagem sobre a vida das gentes de Monsanto (“a aldeia mais portuguesa de Portugal”, diziam os salazaristas!), na Beira Baixa, nestes tempos trágicos de pandemia. Uma reportagem tanto mais magnífica que foi tecnicamente realizada e sonorizada em telemóvel pelo seu autor, João Pedro Mendonça (é justo que aqui se escreva o seu nome). Uma reportagem de iniciativa manifestamente pessoal de um jornalista em confinamento obrigatório. Só que esta reportagem é um belo exemplo deste Portugal desconhecido que as televisões e demais média nacionais poderiam e deveriam mostrar-nos e não nos mostram. Porque o Portugal deles é sobretudo, e mesmo quase exclusivamente, o de Lisboa e um pouco o do Porto. O resto do país não existe! O país “do interior”, o tal “das ba

Estes inconscientes que nos informam

J.-M. Nobre-Correia Da extrema direita vem uma proposta de confinamento de um grupo sociocultural. E há logo um média para fazer disso tema de debate !… Aquilo que leio por aí sobre a emissão desta manhã do “Fórum TSF” prova claramente que anda muita gentinha a ganhar a vida com uma “carteira profissional de jornalista” que tem falta de pelo menos três formações essenciais de base. Para começar, uma necessária formação jornalística académica séria. Depois, uma indispensável formação cultural vasta e suficientemente aprofundada. Por fim, e sobretudo, uma formação democrática no sentido forte da palavra, que deveria aliás ser condição  sine qua non  de acesso à profissão. A exigência destas três formações compreende-se tanto melhor quando sabemos que o jornalismo constitui uma componente essencial do debate democrático. Ao mesmo tempo que constitui um mecanismo de controlo do funcionamento democrático da sociedade em que vivemos. Mas o erro jornalístico, cultural e democrático d

Esbanjar ou saber investir

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J.-M. Nobre-Correia Do mundo dos média surgem pedidos para ajudas financeiras do Estado. Mas há que avaliar a pertinência de tais pedidos… Nestes tempos de calamidade sanitária, com as sequelas económicas que se imaginam, muitas empresas e instituições pedem dinheiro ao governo. Quer dizer: ao Estado. Ou melhor: a todos nós. Esperando cada uma que sejam, evidentemente, os outros a pagar o crédito que lhes será favorecido. Entre as suplicantes, a imprensa diária desportiva e a imprensa regional. Ora, no primeiro caso, tal pedido é chocante. Não é esta mesma imprensa que assiste impávida e serena ao escandaloso  mercato  de jogadores de futebol e de outras modalidades que lembra,  mutatis mutandis , os antigos mercados de escravos? Não é ela que recusa denunciar os valores enormes das transações e os salários gigantescos de olimpianos de que ajuda a modelar a imagem pública? Não é ela que se “esquece” de se opor à destruição de estádios para que se construam outros mais faraónicos

As razões de uma escolha

J.-M. Nobre-Correia Comprar um jornal não significa necessariamente procurar informar-me no sentido forte do termo. Outras motivações existem… Hoje de manhã, apresentei-me numa das minhas habituais lojas de jornais. E diz-me o jovem proprietário, que sabe quem eu sou: é interessante constatar que, quando a pandemia começou, os leitores deviam ter necessidade de informação fidedigna. E as minhas vendas do  Público  quase dobraram então, enquanto as do  Correio da Manhã  quase passaram para metade. Agora que já estamos a sair da crise — prosseguiu o jovem proprietário —, estamos a voltar à situação anterior: o  Público  a baixar e o  Correio da Manhã  a subir. A explicação empírica do jovem proprietário pareceu-me magnificamente límpida e interessante. Procurei eu então dar uma breve explicação, enquanto me ia servindo e preparando o troco do pagamento: o que boa parte das pessoas procuram num jornal sensacionalista não é propriamente informação que lhe permita compreender o mun