As razões de uma escolha

J.-M. Nobre-Correia
Comprar um jornal não significa necessariamente procurar informar-me no sentido forte do termo. Outras motivações existem…
Hoje de manhã, apresentei-me numa das minhas habituais lojas de jornais. E diz-me o jovem proprietário, que sabe quem eu sou: é interessante constatar que, quando a pandemia começou, os leitores deviam ter necessidade de informação fidedigna. E as minhas vendas do Público quase dobraram então, enquanto as do Correio da Manhã quase passaram para metade.
Agora que já estamos a sair da crise — prosseguiu o jovem proprietário —, estamos a voltar à situação anterior: o Público a baixar e o Correio da Manhã a subir. A explicação empírica do jovem proprietário pareceu-me magnificamente límpida e interessante.
Procurei eu então dar uma breve explicação, enquanto me ia servindo e preparando o troco do pagamento: o que boa parte das pessoas procuram num jornal sensacionalista não é propriamente informação que lhe permita compreender o mundo, a sociedade em que vive, e tomar as decisões do dia-a-dia que se impõem. Procuram sim, antes do mais, distração, sensações fortes e temas de conversa com as pessoas que frequentam e que têm geralmente um nível cultural similar ao delas…
Há outro aspeto que é igualmente importante na compra e na escolha que se faz de um jornal: dar uma imagem de si ao meio social em que se vive. É manifestamente um dos elementos importantes que leva aos sábados à compra do Expresso: expor o tradicional saco do jornal à vista dos outros, é querer dar uma certa imagem de si àqueles que o veem.
Nos anos 1960 em Paris, havia gente que comprava os dois vespertinos de então: France-Soir, que era ainda o maior diário francês e o mais sensacionalista, e Le Monde, que era e continua a ser o diário francês de referência por excelência. O primeiro era então geralmente e cuidadosamente escondido debaixo do casaco, metido no saco de mão ou dobrado dentro do segundo. Sendo este atentamente posto à vista de todos: ali ia um/a homem/mulher com um certo nível cultural e provavelmente um confortável nível de rendimentos!…

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