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A mostrar mensagens de novembro, 2020

Um princípio de base esquecido

J.-M. Nobre-Correia Quando leio aquilo que leio nos jornais portugueses (eu que sou, por prazer e “dever”, assinante e leitor diário de jornais europeus, haverá no próximo mês 54 anos), deixem-me que faça aqui referência a um princípio de base. E o princípio é este: um jornal é uma instituição com uma indispensável coluna vertebral e não um “albergue espanhol” onde qualquer “colunista” (permanente ou ocasional) vem expor os seus delírios e os seus fantasmas obsessivos. É um erro magistral que praticamente todos os jornais em Portugal têm cometido desde o 25 de Abril. O que impossibilita os leitores de se identificarem com o “seu” jornal e de experimentarem quotidianamente a necessidade de comungarem com ele os factos de atualidade sobre a vida no mundo…  

Começa o folhetim da nova campanha

  J.-M. Nobre-Correia Quase ininterruptamente, os média, sobretudo as televisões, lançam peças mais ou menos alarmistas, pouco dignas do jornalismo… Desde que vivo em Portugal que experimento cada vez mais o horrível sentimento de que as redações dos média foram largamente invadidas por gente que nunca frequentou verdadeiras escola de jornalismo, mas sim escolas de relações públicas, de animação social ou de propaganda. Isto explica que os média “nacionais”, pequenos ou grandes, vão de campanha em campanha em campanha: ontem começou a do calendário da vacina anti-covid… Sem se preocuparem com o rigor da informação, sem verificarem previamente os factos, sem os fazerem interpretar por especialistas realmente conceituados. Dando a prioridade ao imediatismo e ao anúncio antes dos concorrentes, assim como às matérias suscetíveis de exaltar os ânimos do público. Privilegiando o clamor que o que anunciam poderá provocar, a repercussão que isso poderá ter nos outros média (que em princípio ci

Já repararam?…

J.-M. Nobre-Correia Pelas bandas do Facebook, não vi desde ontem uma única intervenção em favor da posição adotada pelo Bloco de Esquerda na Assembleia da República durante o debate final sobre o Orçamento de Estado para 2021. Mas vi muitíssimas a criticar a dita posição… Estará o meu Facebook desfasado em relação à realidade da chamada opinião pública? Ou o que se lê desde ontem no Facebook traduz de facto a perceção dos cidadãos deste país perante a atitude do Bloco de Esquerda?… Esperemos pelas próximas sondagens e sobretudo pelas próximas eleições: veremos então qual é o resultado da cartada de póquer de ontem…  

Um rio de incongruências

J.-M. Nobre-Correia As obsessões obscurantistas de um aliado de quem já deu suficientes provas de ser claramente inimigo da democracia… Ver Rui Rio no telejornal das 20h00 da RTP 1 denunciar as negociações entre PS e PCP, e pretender que o governo ficou dependente dos comunistas, provocou-me um calafrio seguido de riso… Só lhe faltou dizer que é bem sabido que os comunistas trazem uma faca entre os dentes e comem criancinhas ao pequeno almoço!!! Discurso bem conhecido de tempos de salazarismo, analfabetismo e repressão policial… Francamente: Rio que negociou e anda a negociar com o fascista de serviço, deveria ter o bom senso e a decência de se calar e não procurar meter-nos medo com o papão comunista. Até porque nós sabemos bem que, hoje em dia, o perigo potencial para a democracia portuguesa vem da gentalha reunida em torno do antigo militante do PSD e seu atual aliado, e não de um partido que soube resistir ao salazarismo e lutou pela instauração da democracia em Portugal. Um partid

O teatro do Bloco

  J.-M. Nobre-Correia Quando um partido confunde ação política com desempenho de uma peça num palco chamado parlamento ou televisão… Viram o que aconteceu hoje com o voto do Orçamento de Estado na Assembleia da República? Se querem compreender um dos aspetos, não se esqueçam que Catarina Martins é atriz. E o que ela anda a fazer há anos, na Assembleia da República e nos média (sobretudo perante as câmaras de televisão), é antes do mais teatro. Um muito mau teatro, diga-se em abono da verdade, com lados bastante irritantes de pretensa prima donna e preocupantes incidências sobre o futuro da esquerda e da democracia em Portugal. Desta vez, o seu partido — que conta outros protagonistas em matéria de teatro — resolveu apostar lançando a moedinha ao ar: caras ou cruzes? Vai o Bloco conseguir apanhar eleitores tradicionais do PS (que consideram que este não é suficientemente reformista) e/ou do PCP (estimando que este não é suficientemente radical)?; ou vai o Bloco entrar em fase de erosão

O que de facto está em jogo…

  J.-M. Nobre-Correia As discussões e decisões em torno do Orçamento de Estado, em tempos de pandemia, põem a questão do futuro da esquerda deste país… Observando-o com olhos de quem viu e continua a ver o que se passa na cena política europeia, o Bloco de Esquerda assemelha-se muito, por vezes, a uma agremiação de extraterrestres. Com manifestamente alguns espíritos brilhantes. E com outros egocêntricos exibicionistas palradores adoradores dos média. Mas com notórias graves deficiências em termos sociopolíticos: uma quase ausência nos planos autárquico, sindical e demais corpos intermédios de toda a espécie. E uma manifesta ausência de vontade de meter as mãos na massa, saltando decididamente dos discursos de tribuna para a gestão quotidiana de realidades comezinhas. Tudo isto se tornou particularmente flagrante desde que vivemos em pandemia, já lá vão nove meses. E perante esta pandemia vivida dolorosamente pela população, o Bloco vai de efeitos oratórios parlamentares em efeitos ora