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A mostrar mensagens de maio, 2021

Uma situação cada vez mais insuportável !

J.-M. Nobre-Correia Quando é que os cidadãos, os políticos e os média deste país irão dizer a Marcelo Rebelo de Sousa para se calar ?! E quando é que lhe vão dizer para se limitar a assumir as competências que a Constituição lhe atribui e parar de andar armado em responsável da ação governamental, quando lhe convém, ou, paralelamente, erigido em manobreiro estratega da direita do futuro ?! Leiam jornais estrangeiros, oiçam rádios estrangeiras, vejam televisões estrangeiras : onde é que veem um único chefe de Estado da Europa Ocidental a aparecer todos os dias nos média e a intervir todos os dias, e mesmo várias vezes por dia, sobre os mais diversos temas da atualidade ?! E como é que os jornalistas suportam isto e, o que ainda é pior, até alimentam este egocentrismo exibicionista que constitui um verdadeiro atentado à letra e ao espírito da Constituição ? Não se dão eles conta que Rebelo de Sousa se apodera diariamente de parte dos meios técnicos e humanos das redações, assim como de u

"Não" aos insuportáveis futeboleiros !

J.-M. Nobre-Correia Quando é que os governos deste país (de esquerda ou de direita) terão a coragem de enfrentar os imbecis e desordeiros futeboleiros (nos casos da atualidade : em Lisboa, há dias, ou no Porto, este fim de semana) e impor-lhes o respeito do Estado de direito ?… E quando é que os média deste país (e sobretudo as televisões) deixarão de drogar diariamente estes imbecis e desordeiros futeboleiros com uma atualidade “jornalística” completamente irrealista e irresponsável que só pode alimentar a tendência desordeira desta gente ?…

A terra que era a deles…

J.-M. Nobre-Correia Tenho-me lembrado muito nestes últimos dias daquele colega em Ciências Políticas que veio ao meu quarto na Cidade Universitária para que eu lhe explicasse umas dificuldades da cadeira de Estatística. Estávamos em 1968, se não me engano. Eu tinha comprado laranjas no Sarma (ou seria Nopri o nome ? No mesmo espaço encontra-se há longos anos uma grande livraria), supermercado da Avenue de l’Université, uns 200 metros mais longe. Certas laranjas traziam um autocolante que indicava que vinham de Haifa. E, no meio das explicações, ofereci uma laranja ao meu colega dizendo-lhe que vinha de Israel : “De Israel não ! Da Palestina !”, reagiu ele crispado… Fiquei impressionado com a reação daquele colega palestiniano. E foi uma daquelas situações simples, fulminantemente límpidas, que me impressionaram e que nunca esqueci. E de que me tenho lembrado muito nestes últimos dias…  

Os responsáveis são os outros, claro !

J.-M. Nobre-Correia Ai tantos, tantos, tantos responsáveis que há do que se passou ontem, antes, durante e depois de um jogo de futebol — a acreditar no que dizem os nossos jornalistas… Mas, claro, estes mesmos jornalistas “esquecem-se” de dizer que eles também são altamente responsáveis ! São eles e os média deles, e sobretudo as televisões, que são responsáveis da “cultura” geral que reina neste país. Com o futebol logo pela manhã, a todas as horas, nos radiojornais. Com o futebol nos títulos e a ocupar boa parte dos principais telejornais (para aí um quarto a um terço da duração). Com os resultados dos campeonatos nos mais diversos países estrangeiros, dando particular relevo a vicissitudes de jogadores e treinadores portugueses que por lá andam. Com as declarações diárias do “pensamento profundo” dos treinadores dos principais clubes nacionais. Com as televisões a seguirem durante tempos infinitos, em “direto”, os autocarros onde vão jogadores de futebol, à chegada e à saída de hot

Como eles entendem e lhes apetece…

J.-M. Nobre-Correia Boa parte, senão a grande maioria dos jornalistas em Portugal tem uma estranha conceção da chamada “liberdade de imprensa” e mais propriamente da liberdade de informar ! Para eles, isto significa muito simplesmente que têm o direito de viver numa espécie de extraterritorialidade em relação aos mais elementares princípios da legalidade democrática. Mais do que isso : que têm o direito de escrever e dizer o que muito bem entendem e lhes apetece, sobre as pessoas e os acontecimentos, numa total e garantida impunidade. O direito de se afastarem sem escrúpulos do rigor dos dados factuais ou de ousarem interpretações desprovidas de independência e marcadas pela ideologia. Estranha conceção da democracia e do Estado de direito que reina no seio “da classe”, como eles se designam ! Mas ai de quem queira exercer o seu elementar direito de crítica serena e argumentada, que será imediatamente acusado de querer fazer censura ou de pretender restringir a sagrada e sem-limites “l

Esses Barretos que por aí andam…

J.-M. Nobre-Correia Quando penso em António Barreto e em todos os Barretos que por aí andam, vindos da extrema esquerda e que foram passando sucessivamente por diversas formações intermédias até chegarem à direita, por vezes à direita conservadora e até mesmo à direita reacionária, lembro-me sempre de um editorial do diretor do  newsmagazine  (de centro direita) parisiense  Le Point , de que eu era leitor semanal. Já lá vão muitos anos, escrevia o dito diretor a propósito deste tipo de personagens a quem os média estão sempre prontos a dar palco, fazendo declarar a um deles (imaginário) : foi porque me enganei repetidamente naquilo que disse ou escrevi sobre a sociedade e a política numa série de ocasiões, que agora estou em condições de vos dizer a verdade e de vos propor uma excelente e indiscutível análise sociopolítica !… Vem isto a propósito da entrevista do dito Barreto ao semanário  Nascer do Sol . Mas não pensem que o lado patético das suas declarações fará que ele passará a te

Lembrei-me de Dusseldórfia…

  J.-M. Nobre-Correia Hoje, lembrei-me uma vez mais de Dusseldórfia. Ou melhor: lembrei-me da primeira vez que fui a Dusseldórfia, na Alemanha. Estávamos ainda no início dos anos 1970, bem antes do 25 de Abril português. Quando eu saí de um autocarro, a moça que por mero acaso se encontrava ao meu lado, atravessou a rua na devida passagem para peões para ir pôr o bilhete de transporte no caixote do lixo do passeio do outro lado da rua. Fiquei impressionadíssimo e lembrei-me evidentemente dos maus hábitos de meados dos anos 1960 em Portugal, onde eu não voltara… Esta tarde fui a um supermercado e assisti a uma cena revoltante: no estacionamento do supermercado, um jovem de uns 28-30 anos, sentado em frente do volante do seu carro. No banco de trás ia uma criança de uns três anos. E o pai (?) resolveu deitar o resto de um biscoito para o chão do estacionamento. Gesto repetido imediatamente com o bilhete de uma “raspadinha” e um maço de cigarros vazio ! Quando havia um caixote do lixo ali

As descobertas que eles fazem !

  J.-M. Nobre-Correia Por vezes, nos nossos média, irrompem assuntos que vimos depois a saber que nem sequer são novidade. Mas que foram ignorados… Pois é: tristemente, a informação em Portugal é cada vez mais fruto de um jornalismo sentado, feito à base de computadores e de telemóveis. E concebido largamente a partir de comunicados e conferências de imprensa. Quando falam de repórteres e de reportagens, as nossas televisões (pois são elas que dominam em termos de cobertura da atualidade para a maioria da população) mostram-nos quase sempre uns jovenzitos que vão de micro em punho entrevistar sempre os mesmos tipos de personagens: os “chefes” de qualquer coisa, mais eventualmente o passante ali mesmo ao lado. Tudo isto em “diretos” realizados de preferência perto da redação e que dão muitas vezes lugar a cenas e a declarações caricatas. Dar-lhes o título de “repórter” é seguramente uma usurpação, até porque as reportagens no terreno, no sentido forte do termo, são extremamente raras. T

Pequena recordação do que mudou…

J.-M. Nobre-Correia Do antigo e do atual Primeiro de Maio dos jornais, cá e lá fora… No tempo da ditadura salazarista, uma só profissão (que eu saiba) fazia feriado no dia 1 de maio : a dos tipógrafos. Uma profissão que foi durante longos decénios a de um raríssimo proletariado que sabia ler e escrever, por vezes até com uma boa cultura de base, tendo assim uma consciência social e política que lhe permitira conservar esta celebração do 1° de Maio que o salazarismo recusava aos outros trabalhadores. Em consequência deste feriado do 1° de Maio, nos tempos da ditadura não se publicavam jornais em Portugal neste dia. Em países como a Bélgica e a França, por exemplo, ainda hoje os diários não são publicados. Nem sequer as edições digitais deles. Para além deste feriado, no Portugal da ditadura, os diários eram publicados todos os sete dias da semana. Depois do 25 de Abril, uma decisão absurda fez que os diários tivessem deixado de ser publicados aos domingos, como se a atualidade parasse e