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A mostrar mensagens de março, 2022

Dez anos depois…

J.-M. Nobre-Correia Faz hoje dez anos que passei a residir em Portugal, depois de ter vivido 45 anos e três meses, muito precisamente, em Bruxelas. Dez anos depois, nunca me arrependi de ter regressado. Embora a sociabilidade em terra portuguesa já não seja o que era nos anos 1960. Embora os sentimentos de rivalidade e de inveja estejam agora bastante disseminados. Embora o peso dos clãs de poder de toda a ordem seja triste e aflitivamente evidente… É verdade que os meus melhores amigos continuam a viver para além dos Pirenéus. Mas há felizmente agora todas estas novas tecnologias que me permitem conversar com amigos residentes longe, vendo-os. Durante o tempo que se quiser e gratuitamente!… Que diferença com o que eram as comunicações pessoais quando fui para o exílio! O meu primeiro telefonema para a família dei-o nove, dez meses depois de ter chegado a Bruxelas. E foi preciso ir aos Correios ao lado da Estação de Etterbeek, pedir à operadora o número do telefone fixo em Portugal, es

Esperemos que ele se acalme…

J.-M. Nobre-Correia Esperemos que as estranhas (e inadmissíveis) reações do inquilino de Belém, cuidadosamente veiculadas para os média (que estão já a repercuti-las com o habitual sentido de irresponsabilidade e a pitada de sensacionalismo que tanto apreciam) não constituam o prólogo de um receado golpe palaciano desestabilizador da nossa democracia parlamentar: como a história do inquilino de Belém tem demonstrado, ele é capaz de tudo!…    

Aqui está o novo governo!

J.-M. Nobre-Correia Coitado do inquilino de Belém: está muito zangado! Ele que tanto gosta de dar o sentimento de que é ele que faz tudo e decide tudo!… Ele que já devia ter preparado um espetáculo qualquer para as câmaras de televisão, ver assim a composição do novo governo anunciada antecipadamente pelos média. Não há direito! Isto não se faz ao inquilino de Belém: privá-lo de um efeito de anúncio! Tenhamos pena dele!…    

Tão “irritado” que ele está!

J.-M. Nobre-Correia É um gozo! O inquilino de Belém está “irritado”, muito “irritado”! Ele que é tão, tão respeitador dos poderes que lhe são conferidos pela Constituição! Ele que nunca, por nunca ser, se mete em assuntos onde não é constitucionalmente chamado! Ele que nunca, absolutamente nunca, deixa compreender que foi ele que decidiu em matérias que são da competência do governo e que foi de facto o governo que teve que as resolver! Ele que tem sempre, sempre, sempre que botar palavra sobre tudo, tudo, tudo. Mesmo em assuntos em que os outros chefes de Estado nem sequer imaginariam um só segundo ter que se pronunciar publicamente! Está muito zangado o nosso Fala-Barato nacional! Até porque deve ter finalmente compreendido que todas as suas manobras dos últimos meses (com o PSD e com as eleições antecipadas, para não ir mais longe) falharam. E que agora, com a maioria absoluta reforçada, o governo até pode de vez em quando mandá-lo ir ar uma curvas… Acreditemos, porém, no Pai Natal

O que se decide vir a ser…

J.-M. Nobre-Correia Leitor diário do parisiense “Le Monde” há 55 anos — e de muitos outros jornais de diferentes países europeus, mas não de maneira contínua durante tantos anos —, leio nele regularmente algumas rubricas (nomeadamente crónicas e editoriais). Uma rubrica semanal, que data de há pouco anos, intitula-se: “Je ne serais pas arrivé(e) là si…” (“Não teria chegado lá se…”), uma entrevista íntima mas discreta com uma personalidade que nos dá a conhecer um percurso de vida, as razões de um sucesso. Rubrica que leio frequentemente. Na edição de hoje de “La Matinale du Monde” (a edição matinal digital do jornal), a entrevistada é uma “cheffe” francesa, proprietária de sucesso de dois restaurantes em Los Angeles. Uma criança de orfanato, adotada por um casal bretão. E a entrevista termina assim, com as suas palavras: “Ce n’est donc pas d’où on vient qui importe. C’est ce qu’on decide de devenir”. Não é pois de onde se vem que importa. É o que se decide vir a ser”. Bela conclusão e

Um telejornal tão, tão pobrezinho!…

J.-M. Nobre-Correia Hoje vi o telejornal da TVI (na Sic havia uma transmissão desportiva qualquer à hora do telejornal!). E penso que estive suficientemente atento, embora com uma espreitadela de vez em quando para o computador… Um tema dominou o telejornal de 1h37, no início e no fim: a Ucrânia. Entre as três partes consagradas a este assunto, um tempo imenso com o grande especialista em geopolítica e em economia Paulo Portas (também especialista em submarinos, como é sabido). Logo a seguir, a explosão de ontem num prédio da Amadora e, claro, a inevitável peça obrigatória sobre Marcelo Rebelo de Sousa, neste caso: a visita a Moçambique. Inacreditável: um total de 97 minutos (três a cinco vezes mais do que a maior parte dos telejornais no resto da Europa ocidental) e quase um só tema, mais dois temas tratados muito rapidamente, acessoriamente. À 1h35 é dito que se assiste a um aumento dos preços da eletricidade e do gás. E de novo, para terminar, a Ucrânia, mas desta vez com Chopin. Ma

Há aliados e aliados

  J.-M. Nobre-Correia Suponhamos que a Arábia Saudita não fosse um aliado essencial da política estado-unidense dos Próximo e Médio Orientes: o alarido, a campanha que as agências de informação, jornais e televisões estado-unidense teriam feito em torno destas 81 execuções num só dia! É que a indignação dos média estado-unidenses é infelizmente muito seletiva. E agora a guerra na Ucrânia até os ajudou a “esquecer” estes e outros comportamentos da feroz ditadura teocrática…  

Questões a propósito de Roman Abramovitch

J.-M. Nobre-Correia A notícia há instantes no “newsmagazine” parisiense “L’Express” (“A EU sanciona novos oligarcas russos, entre os quais Abramovitch”) levanta, a meu ver, diversas questões: • que se saiba, Roman Abramocvitch é juridicamente português desde abril do ano passado. Desde logo • com que direito é que a União Europeia toma sanções para com um cidadão de um país membro? E neste caso, • como é que o governo português não protesta vivamente como deveria fazer junto dos responsáveis de tal decisão? E isto enquanto não forem concluídas as averiguações sobre a legalidade da decisão dos responsáveis da comunidade judaica do Porto que levou a que fosse atribuída a nacionalidade portuguesa a Abramovitch. Caso se venha então a confirmar que Roman Abramovitch não é de facto descente de judeus expulsos de Portugal durante o reinado de Manuel I e que a atribuição da nacionalidade portuguesa é desde logo fruto de corrupções e ilegalidades diversas, a nacionalidade portuguesa deverá ser-

Uma entrevista para ver

J.-M. Nobre-Correia Graças a uma antiga colega de exílio em Bruxelas, pude ver agora esta emissão, pois não tenho por hábito espectador deste género de programas na televisão portuguesa. E vi-a porque li na altura em que saiu o livro de António Costa Silva, “Portugal e o mundo numa encruzilhada” (Bertrand, julho de 2021, 328 p.) e fiquei absolutamente deslumbrado. Deslumbrado com a vasta cultura, a inteligência e a clareza de pensamento que o livro punha em evidência no que dizia respeito ao autor. Quanto à entrevista, particularmente interessante, fiquei uma vez mais chocado com esta necessidade do entrevistador de 1. interromper demasiadas vezes e despropositadamente o entrevistado com intervenções puramente pontuais, 2. interromper o entrevistado unicamente para mostrar que também conhece o assunto, impedindo muitas vezes o entrevistado de concluir a sua argumentação, 3. fazer perguntas que são de facto mini-editoriais e não perguntas claras, secas, pontuais. Uma entrevista não é um

Lá onde a vida continua…

J.-M. Nobre-Correia Hoje, no telejornal das 13h00 da RTBF 1, a televisão pública belga: • primeiro assunto: a crise dos combustíveis, • segundo: o fecho de centros de vacinação e de testes, • terceiro: condenação pelo tribunal de m homem político, • quarto: pagamentos em dinheiro líquido exigidos em certos comércios, • quinto: a guerra na Ucrânia (e por aqui me fico na enumeração do chamado alinhamento)… Na televisão pública belga francófona, a vida no país e no mundo continua. Ao contrário do que acontece na nossa televisão pública portuguesa, onde só (quase) a guerra na Ucrânia existe…    

Respirar um pouco de ar fresco…

J.-M. Nobre-Correia Que prazer ter visto há instantes o telejornal das 13h00 (12h00 em Portugal) da belga RTBF 1!… Uma abertura do jornal com o custo da energia. Com três intervenientes (uma jornalista e dois especialistas) que explicam por que é que o gás aumentou vinte vezes de preço (leram bem: vinte vezes) entre março do ano passado e março deste ano! Quando me lembro da “reportagem” de ontem na RTP 1 (já não sei se no jornal das 13h00, se no das 20h00) sobre o mesmo assunto e mais concretamente sobre a gasolina e o gasóleo: uma vergonha! Um verdadeiro escândalo!… Depois, na RTBF 1, a Ucrânia foi o segundo assunto do jornal. A que vieram juntar-se outros assuntos. Porque a vida no mundo continua. E nada explica a lamentável abordagem (quase) monotemática dos telejornais portugueses…    

Há reportagens e “reportagens”

J.-M. Nobre-Correia Quando vejo as reportagens (no sentido próprio e forte da palavra) dos repórteres de France 2 na Ucrânia (cinco [?] equipas diferentes) e vejo depois as “reportagens” quase estáticas dos enviados da RTP 1 (que mostram eles da real situação da guerra?), digo que há um sério problema… Um enorme problema de meios técnicos e humanos, por demais evidente. Mas também um gigantesco problema no que diz respeito ao que é ensinado nas escolas “de jornalismo” portuguesas sobre a reportagem. Sobre os aspetos teóricos e práticos da reportagem no sentido próprio do termo. A tal ponto que há legitimamente que perguntar qual o interesse do que nos propõem, que é muitas vezes mais do domínio do editorialismo do que da reportagem propriamente dita. Um editorialismo que poderia então muito bem ser quase sempre assumido a partir da redação em Lisboa!…  

O que eles dizem e a realidade dos factos

J.-M. Nobre-Correia Quando oiço (e vejo) por vezes as nossas rádios e televisões falarem de situações pontuais, ocasionais, e constato depois que as “reportagens” sobre o mesmo assunto se repetem, repetem, pergunto a mim mesmo até que ponto não são elas que as criam ou pelo menos alimentam, passando então a haver verdadeiras situações de confusão… Ontem e hoje ouvi falar nas situações de confusão nas gasolineiras de Coimbra. Ora, ontem, domingo, às 9h17 da manhã, apresentei-me numa das estações de serviço à saída de Coimbra. Uma estação com cinco (ou quatro?) bombas, três estando ocupadas com um carro cada uma. Dirigi-me à que estava disponível e atestei imediatamente o depósito meio vazio do meu carro… Venham-me depois falar de “corrida” às gasolineiras e de “caos” nas gasolineiras. Muitos média gostam deste tipo de “reportagens”. Possam embora elas não corresponder à realidade dos factos…