Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2022

E se o telejornal mudasse de nome?…

J.-M. Nobre-Correia Hoje vi corajosamente o telejornal das 20h00 da RTP1 até à primeira interrupção publicitária (publicidade que é legalmente proibida noutros países europeus, nos jornais das televisões públicas como das televisões privadas). Reparei que nos primeiros 20 minutos, o residente de Belém apareceu três vezes a falar em três assuntos diferentes. E, sonhador, lembro-me uma vez mais daquelas democracias europeias onde os chefes de Estado não falam aos média durante semanas e mesmo meses a fio, só o fazendo em circunstâncias raras e verdadeiramente excecionais… Tenho pois uma proposta a fazer: e se o telejornal da RTP passasse a chamar-se o “Pequeno Marcelo Ilustrado”? Não seria mais adequado à triste realidade?…  

Não brinquemos nem esqueçamos!

J.-M. Nobre-Correia Não brinquemos com as declarações de hoje do facho (como andam alguns por aí a fazer no Facebook). E sobretudo não as tomemos à ligeira! Um facho é um facho! E a violência física faz parte da história do fascismo, nomeadamente do fascismo italiano que foi fisicamente violento. Não nos esqueçamos, se não quisermos ser vítimas dele!… Os nossos média e os nossos jornalistas deveriam ser mais comedidos na importância que dão à gesticulação permanente do pretenso “duce” cá da terra. E mais corajosos na condenação que a defesa da Democracia e do Estado de direito exige…  

Há ditadores e ditadores: os mauzões e os bonzinhos!

J.-M. Nobre-Correia Então é assim. Ou melhor: o avaliómetro das nossas democracias funciona assim: • há os países que são umas horríveis ditaduras, onde só acontecem coisas insuportáveis: são aqueles que não têm vergonha nenhuma em ser aliados da Rússia ou da China ou de regimes desse género, • depois há aqueles países que têm a pretensão de ser aquilo a que chamavam outrora “’não alinhados”, onde acontecem também umas coisas perfeitamente criticáveis e mesmo detestáveis, e que é preciso denunciar regularmente, • por fim há aqueles países nossos aliados onde não acontece nada ou pouca coisa. E se acontece alguma coisa (repressão omnipresente, condenações à morte em série, esquartejamentos de condenados,…), os nossos interesses estratégicos convidam-nos a fazer que não vemos. E mesmo, se preciso for, os ditadores sanguinários destes países são recebidos pelas nossas belas democracias com as devidas honras… Ainda há poucos dias, aquele que, estado-unidense, se pretende líder do “mundo li

Um jornalista põe os pontos nos ii

J.-M. Nobre-Correia Leio muito raramente as “opiniões” e demais textos de “comentadores” na imprensa portuguesa. Hoje porém fui naturalmente levado a ler o artigo de António Marujo, diretor do jornal digital  7 Margens , publicado na edição desta manhã do  Público . Duas razões explicam a minha reação. Primeiro, o título do artigo: “O fascismo anticristão do Chega, a Igreja e os jornalistas”. Depois, tive com António Marujo um agradável debate organizado pelo Instituto Politécnico de Beja em maio. Apesar da minha irreligiosidade, li com muito interesse a primeira parte do artigo. E li com especial interesse a parte final consagrada à atitude dos jornalistas perante a vociferação dos fachos cá da terra. Em 15 de novembro do ano passado (há apenas oito meses) publiquei eu mesmo um artigo intitulado “Os limites do pluralismo” no mesmo jornal  Público . Mas eu sei que os jornalistas dão pouca ou nenhuma importância ao que possam escrever académicos sobre as práticas jornalísticas. Porém, j

Quando a extrema direita avança

J.-M. Nobre-Correia Contabilizando apenas os votos das suas três grandes formações políticas, a direita radical e a extrema direita italianas somam 48,6% das intenções de votos (23,4 + 14,6 + 10,6%), liderando a extrema direita com 23,4% (resultados anunciados hoje em “La Repubblica”)! Depois dos avanços da extrema direta em Espanha e em França, a extrema direita italiana é anunciada como novo principal partido do país… Um vento nauseabundo inquietante vai soprando cada vez mais forte por esta nossa Europa fora…    

À intenção dos jornalistas portugueses

J.-M. Nobre-Correia Que os jornalistas portugueses me perdoem se insisto em dizer-lhes (como escrevi no Facebook anteontem e ontem) que o falecido Eugenio Scalfari não era um jornalista qualquer e ainda menos um diretor de semanário e de diário qualquer, embora tenha sido tão (quase) ignorado pelos média portugueses… Deixo aqui esta referência do papa Francisco a Scalfari, defensor da laicidade e ateu convicto… Fica também a homenagem do presidente francês Emmanuel Macron, representado pelo jornalista Bernard Guetta…    

Em que mundo vivem eles?

J.-M. Nobre-Correia Vimos e lemos aqui e além nos jornais portugueses ditos “nacionais” que faleceu a primeira mulher de Donald Trump. Reparem que ela já não era a esposa do ex-presidente. E que, no fim de conta, só existia jornalisticamente porque se fazia ou fizera chamar Trump (neste horrível hábito de fazer as mulheres substituir o seu próprio apelido pelo do marido, menorizando-as. Mas não o contrário, reparem!). Ora, em princípio, o desaparecimento da dita senhora “Trump” não tem consequência nenhuma no plano internacional, nem mesmo, supõe-se, no plano interno estado-unidense. E claro, não tem incidência absolutamente nenhuma sobre a vida quotidiana dos portugueses. O que não impediu os nossos jornais “nacionais” de acharem por bem de anunciarem o acontecimento. Agora, entre nós, faleceu anteontem a esposa de Mário Centeno. Quer dizer do ex-ministro das Finanças e do atual governador do Banco de Portugal, uma figura pública nem conhecida. Procuro nos jornais de referência portug

Um ilustre desconhecido!

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Em que mundo vivem os jornalistas portugueses?! Hoje, o matutino madrileno “El País” e o vespertino parisiense “Le Monde” consagram uma página inteira cada um ao desaparecimento de Eugenio Scalfari, fundador e primeiro diretor do matutino romano “La Repubbica”. Os diários de referência portugueses não lhe consagram sequer uma vírgula!… Scalfari marcou fortemente os últimos quarenta anos do século XX e os dois primeiros decénios do século XXI do jornalismo italiano e até europeu, primeiro com o semanário “L’Espresso” e depois com o diário “La Repubblica”. “La Repubblica” e Scalfari foram mesmo a dado momento acionistas do diário lisboeta “Público” (mas não foi seu co-fundador, ao contrário do que foi muito tardiamente escrito no “Público em linha”!) Ninguém entre os jornalistas portugueses, que têm um espírito corporativo de “classe” tão forte, achou que a morte de Scalfaro merecia que fosse levada ao conhecimento dos leitores por um sólido texto de necrologia, com a

Alargar o ângulo de abordagem

J.-M. Nobre-Correia Leitor, ouvinte e espectador quotidiano de média de referência de pelo menos quatro ou cinco países europeus, sou regularmente surpreendido com certas práticas do jornalismo português. A dada altura, passei assim a fazer “capturas” nas edições digitais destes média para as inserir na minha página no Facebook. Depois comecei a pôr-lhes um mesmo título geral: “Portugal não é uma ilha…”, acrescentando-lhe mais recentemente um subtítulo mais explícito: "…embora haja quem queira fazer crer o contrário…" O que eu pretendo com estas “capturas” não é relativizar os acontecimentos em Portugal, mas sim pôr em evidência a regular ausência de uma perspetiva mais alargada no jornalismo que se pratica entre nós. Para os média portugueses (de maneira geral), o que se passa em permanência neste país é uma desgraça, um caos, um somatório de incompetências de que os mandatários políticos, a administração pública e sobretudo o governo em funções são os primeiros responsáveis

As tristes originalidades a que temos direito…

J.-M. Nobre-Correia Caros Leitores: façam a vossa própria pesquisa, graças a todas essas tecnologias de que dispõem nos televisores, computadores, tabletes e telemóveis! Procurem o telejornal da hora de almoço de cada um dos países da Europa ocidental (no sentindo realmente geográfico do termo), e não esqueçam que os horários são diferentes. Vejam lá então em qual deles presidente da República, rei/rainha ou grão-duque abriu o telejornal e falou em “direto” durante nove minutos sobre as medidas tomadas pelo governo em relação à atual vaga de calor e de fogos florestais! E não se esqueçam que entre os chefes de Estado de todos esses países até há quem tenha poderes constitucionais mais vastos do que os do chefe de Estado português… Já agora, reparem que os incêndios ocuparam 20 minutos do telejornal das 13h00 da RTP1. Um só tema com uma duração igual à duração total de alguns dos telejornais desses países da Europa ocidental! Depois, em seguida, tivemos direito ao folhetim diário da Ucr

É o capitalismo selvagem, pá!

J.-M. Nobre-Correia Voltando a casa, depois de algum tempo de ausência, acende-se um televisor e depara-se com a seguinte mensagem: “este canal deixou de estar disponível em sinal analógico”. E vêm em seguida uma série de instruções escritas em função de diferentes marcas de aparelhos recetores. Instruções sem a mínima imagem vídeo e que, manifestamente, para nada servem: o televisor deixou alegremente de dar qualquer sinal de vida! Há pois que ir a uma loja NOS e, depois de algum tempo de espera, dizem aos clientes que já não há mais descodificadores! Que novos descodificadores deverão em princípio chegar hoje às 11h00. Mas, claro, tem que se fazer de novo a bicha (não!, não!: agora tem que se dizer fila!). Chegado às 10h55 e tirada a senha, já havia onze pessoas à espera e uma só senhora a acolher os clientes. O cliente que já estava a ser atendido, cedeu o lugar 25 minutos depois de eu ter chegado. Fiz rapidamente um cálculo e a conclusão foi de que teria que esperar umas duas horas

Tudo aquilo que não funciona…

J.-M. Nobre-Correia No telejornal das 13h00 da RTP1, que abandonei às 13h08, nada funciona no aeroporto de Lisboa e na TAP, nem nas urgências e na obstetrícia dos hospitais públicos… Fico à espera dos telejornais que abrirão com um assunto importante: o que não funciona no jornalismo dos telejornais da RTP e, de maneira mais geral, na informação televisiva em Portugal… Até tenho o sentimento que, a concretizarem-se, estas seriam sequências com um grande sucesso de audiência…  

A nossa elite comentadorista

J.-M. Nobre-Correia Havia os “comentadores” especialistas do covid, que passaram automaticamente a especialistas da Ucrânia, da Rússia e da polemologia, que entretanto passam a especialistas de aeroportos e de crises internas no governo… Há que reconhecê-lo: temos de facto uma elite comentadorista absolutamente sem igual no meio mediático europeu!…