Mensagens

O residente de Belém ganhou mesmo?

J.-M. Nobre-Correia Com o golpe de Estado palaciano de 7 de novembro, quis alargar os poderes que se foi atribuindo para além do que estipula a Constituição. Como irresponsável congénito, pouco lhe importa o caos de que acendeu a mecha… Sabíamos que o atual residente em Belém foi dispensado de prestar serviço militar nas colónias porque o papá era ministro salazarista e o “padrinho”   in petto   era presidente do Conselho. Como sabíamos que, por ocasião do Congresso da Oposição de 1973 em Aveiro, escreveu ao “padrinho” para denunciar as manobras comunistas (quando a sorte que a Pide reservava aos comunistas era particularmente dolorosa). Como sabíamos ainda que passou uma boa quarentena de anos a intrigar e a instrumentalizar os cidadãos, do   Expresso   à   TVI   (e Francisco Pinto Balsemão como Paulo Portas que o digam), em intervenções a que chamava “comentário político”. Não impede que esta omnipresença em jornais, em rádio e em televisões lhe deu uma tal notoriedade que o dispenso

Um exemplo para Portugal?

J.-M. Nobre-Correia O Conselho de Estado francês, a mais alta jurisdição administrativa do país, após recurso de Reporters sans Frontières (RSF), acaba de impor à Arcom (Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital) a obrigação de exigir que CNews, televisão do grupo Bolloré, respeite as suas obrigações em matéria de pluralismo. Dando-lhe seis meses para que o pluralismo seja devidamente respeitado pelo conjunto dos participantes nas emissões, nomeadamente pelos “comentadores, animadores e convidados”. E o cálculo no que diz respeito a este pluralismo deverá doravante ser mais qualitativo do que quantitativo, sem que as contas referentes ao tempo de antena sejam no entanto postas em questão. A televisão CNews pratica cada vez mais uma informação ostensivamente militante de extrema direita. Mas a Arcom tinha recusado anteriormente dar seguimento ao recurso de RSF, considerando não ter poderes para intervir. O Conselho de Estado impõe-lhe agora que exija da CNews que resp

Uma estranha emissão

J.-M. Nobre-Correia Viram aquela emissão que passou hoje à noite na RTP1 entre as 21h00 e as 21h30? A primeira constatação espantosa foi ver como autora de uma emissão de política nacional uma jornalista que nestes últimos meses aparece frequentemente em ligações diretas do estrangeiro. Ligações que nos são anunciadas como “reportagens” (e foi aliás o caso hoje no telejornal das 20h00), embora pouco tenham de reportagens: as imagens próprias produzidas de acontecimentos e de situação são raras. Trata-se antes do mais, de facto, de correspondências pouco sintéticas e bastante editorializadas… Pois hoje, após o telejornal, a dita “repórter” em matérias estrangeiras propôs-nos uma emissão inacreditável. Inacreditável porque num estilo de perguntas previamente escritas sobre política nacional e sem que fosse ela a formulá-las na emissão. Sendo a mesma pergunta feita sucessivamente aos líderes dos partidos com representação na Assembleia da República. E depois mais uma segunda pergunta aos

Estamos tristemente assim

J.-M. Nobre-Correia Faço uma ida e volta até à que chamo “a capital do império” (porque muitos dos seus naturais ainda estão convencidos que assim é). Desço na estação de Lisboa Oriente e entro no primeiro carro da fila de táxis. Tínhamos andado apenas uns dez metros quando oiço a motorista dizer: “oh pá!, se pusesses os piscas-piscas era melhor !”. E de acrescentar depois para mim: “estes tipos vêm de lá onde não há regras e pensam que aqui é o mesmo!”. Digo que não reparei no que acontecera. E ela: “era um chamusca”… Achei muito estranho que a motorista pudesse dizer que se tratava de alguém da Chamusca, dado que as placas dos automóveis em Portugal não permitem saber a origem geográfica do proprietário, contrariamente ao que acontece em França ou na Suíça, por exemplo. O meu mal-entendido foi porém rapidamente esclarecido pela motorista: “estes chamuças vêm para aqui, mas não querem trabalhar. Só querem tirar proveito das nossas regalias sociais”. Vejo-me então naturalmente levado a

Superar uma debilidade congénita

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Seria um engodo resolver a crise atual de um grupo, sem adotar medidas de fundo capazes de relançar o pluralismo da imprensa… De repente, jornalistas e políticos dão-se conta que a imprensa em Portugal se encontra em crise! Como se os sinais de crise não datassem logo dos primeiros anos após o 25 de Abril. Para não ir mais longe e ver na situação da imprensa um subdesenvolvimento histórico que a autoestima corporativista dos jornalistas preferia não ver e que dava muito jeito a políticos que não tinham assim que dar satisfações aos cidadãos. E claro, descoberta agora a crise, aparecem logo, à boa maneira nacional, uma série de tudólogos espontaneamente competentes em matéria de média… Ora, a crise tem razões históricas longínquas que fizeram que a imprensa nunca tenha tido em Portugal um desenvolvimento à altura da dimensão demográfica e geográfica do país. Porque o analfabetismo foi sempre bastante elevado. Porque o poder de compra da maior parte dos cidadãos foi r

Quinze anos de um combate inglório

J.-M. Nobre-Correia Como vejo pouco a televisão portuguesa, só ontem à noite fui alertado para o magazine "É ou não é" da RTP 1 sob o tema "A crise do jornalismo". Vi ontem à noite a primeira parte e esta manhã a segunda parte (depois da interrupção publicitária, o que é legalmente proibido fazer em diferentes países da Europa na s  emissões de informação). Embora tenham sido feitas algumas propostas concretas, que deveriam ser devidamente estudadas, foi pena que, boa parte das vezes, o debate tenha caído em intervenções sem conteúdo preciso e especializado… Deixem-me então recordar aqui que • em setembro de 2007 — vivia eu então em Bruxelas há 40 anos — tomei a iniciativa de redigir um longo relatório intitulado "Para uma informação regional em Portugal" que enderecei a diversas instituições e personalidades ligadas ao meio mediático português. Daí resultaram apenas dois encontros : um com a direção do Gabinete para os Meios de Comunicação Social e outro

Estes nossos telejornais tão invejados

J.-M. Nobre-Correia Estava a começar o jornal da televisão pública belga francófona (RTBF) quando vi que o assunto dos aviões no aeroporto de Tóquio era para aí o quinto título do sumário. Depois, a assunto apareceu só aos 17 minutos do jornal e foi tratado em breves segundos.  Disse eu à A.: queres apostar que o assunto será a abertura dos jornais das três televisões generalistas portuguesas?! E vais ver: depois de longos minutos sobre esta história de aviões, vamos ter direito às ações diárias das corporações de médicos e de enfermeiros em favor das clínicas e hospitais privados. Ou então à homilia de ontem do golpista incontinente de Belém. Qual será o segundo assunto e o terceiro? Disso não estou certo, mas será um destes dois, seguido do outro. Prognostiquei também que o assunto japonês seria tratado pelas nossas queridas televisões durante longos, longos minutos… Só é pena que eu não seja tão perspicaz com o Euromilhões (que muito rarissimamente compro) como a adivinhar os menus