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A mostrar mensagens de fevereiro, 2022

Da pandemia para a guerra na Ucrânia

J.-M. Nobre-Correia Durante a recente (e ainda atual) pandemia, as disputas entre os numerosos autoproclamados especialistas e demais tudólogos, arruinaram seriamente a confiança dos cidadãos na ciência. E isto foi particularmente evidente em Portugal. É muito previsível que o mesmo venha a acontecer entre nós com o atual desfile de generais e demais tudólogos autoproclamados especialistas da Rússia, da Ucrânia, da história, da política, da economia, da estratégia militar… destes países da Europa de Leste. Peçam-nos depois para termos um mínimo de confiança nos média que nos informam …ou deveriam informar-nos (no sentido próprio e jornalístico da palavra)!…  

Mudanças e constantes

J.-M. Nobre-Correia Sabem uma coisa? Já não há covid: acabou! Agora só há Ucrânia e nada mais! E já não há uma multidão de médicos especialistas em tudo e em nada a falar do covid (eles que gostavam tanto da promoção que as televisões lhes faziam)! Agora, ao que parece, chegou o tempo dos desfiles de militares, de preferência generais, todos especialistas da Ucrânia, da Rússia e da Europa de Leste, bem entendido! Para não falar daqueles especialistas que toda a Europa dos média nos inveja: os nossos formidáveis tudólogos que são, evidentemente, também especialistas em geopolítica, estratégia militar e polemologia! Estou a falar, é claro, do nosso inestimável telejornal da pública RTP 1! Viram o telejornal das 20h00 de ontem? Durante 1h15, um só assunto, até porque, manifestamente, nada mais aconteceu ontem no mundo, nadíssima! E até lhe foi acrescentada uma “Edição especial” de que ignoro a duração, a minha capacidade de resistência tendo-se esgotado! Hoje, para lá caminhamos. E já est

Twitter e os média que temos

  J.-M. Nobre-Correia Twitter suprime toda e qual possibilidade ao facho cá de casa de poder aceder às páginas da rede social para nela divulgar as suas debilidades fascistoides. Entretanto, há longos anos que os média deste nosso pobre país (imprensa, rádio e televisão) vão servindo generosa e irresponsavelmente a sopa requentada e fétida deste sinistro personagem… Que têm a dizer-nos a ERC (Entidade Reguladora para Comunicação Social e o Tribunal Constitucional a este propósito? Confortavelmente instalados nas suas mordomias preferem continuar a fazer que não leem, não ouvem e não veem o que se passa?!…  

Coerência e honestidade!

J.-M. Nobre-Correia Havia desde 1918 um protótipo de união europeia chamado Jugoslávia. Uma monarquia que em 1945 passou a ser uma república federal. Mas, nos anos 1980-1990, o “Ocidente” resolveu incentivar o desmembramento desta Jugoslávia com caraterísticas absolutamente insuportáveis para os Estados Unidos e os seus aliados: o não alinhamento entre blocos no plano internacional e as pretensões socializantes. E, vai daí, não só contribuíram fortemente para a sua desintegração como favoreceram mesmo o desmantelamento da própria República da Sérvia, uma das suas antigas componentes, incentivando a secessão da província do Kosovo. Entre 1991 e 2008, e após uma intervenção armada da OTAN-NATO liderada como sempre pelos EUA, sucederam à Jugoslávia onze Estados e o “Ocidente” e a União Europeia congratulando-se com tal resultado! Agora, duas regiões russófonas da Ucrânia, Donetisque e Lugansque, decidem proclamar-se repúblicas autónomas, num processo claramente incentivado pela Federação

A terra que queremos nossa

J.-M. Nobre-Correia Oiço repetidamente falar de jovens portugueses que emigram. E quem deles fala, atribui rapidamente responsabilidades ao governo (seja ele de que cor politica for). Mas só a ignorância ou a má-fé explicam muitas vezes tal atribuição de responsabilidades… Quando eu saí de Portugal em 1966, nunca tinha cruzado um só estrangeiro residente no país, turistas de passem sim. E, na “capital do império”, o único negro que conheci era um jovem médico moçambicano. Portugal era então terra de portuguesinhos “branquinhos” que viviam segundo os “bons hábitos” de sempre, fechados sobre si mesmos, sem se interrogarem e porem questão o seu modo de vida!… Meio século depois, todos nós conhecemos à nossa volta gente vinda dos mais diversos horizontes. Mesmo na minha terra de origem, no chamado “Portugal do interior”, há gente vinda dos quatro continentes (ignoro se também a haverá vinda do quinto, a Oceânia). E ainda ontem almocei, para as bandas do Mondego, num restaurante onde o empr

“Todos os média tradicionais estão em profunda convulsão”

J.-M. Nobre-Correia História do Média na Europa , Coimbra, Almedina, 2021, 572 p. 1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro “História dos Média na Europa”? Durante longos anos, fui professor titular de uma cadeira de História dos Média na Europa e de outra de Socio-economia dos Média na Europa na Université Libre de Bruxelles. Cadeiras para as quais eu tinha redigido os respetivos manuais, tendo o primeiro tido 12 edições e o segundo 11. De regresso a Portugal, após mais de 45 anos de vida no estrangeiro, a impressão que eu tinha foi reforçada: não havia nenhuma história global da imprensa, da rádio e da televisão em Portugal; e não havia também nenhuma história nesta matéria que tratasse a especificidade portuguesa em relação com outros países da chamada Europa Ocidental. Pelo que, partindo dos meus dois manuais em francês, procedi à tradução, adaptação e atualização dos conteúdos, abordando a história em Portugal, praticamente inexistente nestas edições em francês.   2-Olha

Do rigor à ética da distância

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  J.-M. Nobre-Correia A recente campanha eleitoral pôs ainda mais em evidência o jornalismo que, de maneira geral, se está a praticar neste país… Haverá quem diga que foi mais do mesmo. Que, no fim de contas, a informação a que tivemos direito, entre a dissolução da Assembleia da República e as eleições legislativas, não desmereceu daquela a que nos foram habituando. Mas houve uma acentuação de caraterísticas habituais e algumas novidades. O desequilíbrio de sensibilidade política dos média ditos “nacionais” foi uma vez mais percetível. A preferência foi dada mais a uma ala do arco constitucional do que à outra, tomando pouco em consideração componentes de peso da vida parlamentar e social. O que não os impediu de dar especial atenção a iniciativas unipessoais, contribuindo assim para o sucesso que viriam a ter. Outra especialidade nacional: a proliferação de tudólogos capazes de escrever e falar sobre os mais diversos assuntos, com uma notória incompetência em boa parte deles. Só que,