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A mostrar mensagens de outubro, 2023

Há quem não esteja contente…

J.-M. Nobre-Correia A propósito da informação que por aí circula sobre a classificação de jornalistas na sua relação com agências de comunicação (assunto sobre o qual  já  escrevi aqui  hoje:  "Uma anomalia interessante"), o  Público  faz referência a uma tomada de posição do Sindicato dos Jornalistas. Lê-se a certa altura no texto do  Público : "A estrutura sindical diz ainda saber que há jornalistas que surgem naquela lista associados ao orgão de comunicação em que trabalham, 'que não foram informados da sua inclusão'". O que é que isto quer dizer ?! O interesse da informação que veio a público é precisamente a de virmos a saber que há jornalistas que são especialmente bem vistos pelas agências de relações públicas, com as quais trabalham em colaboração mais ou menos estreita e até esquecendo muito provavelmente princípios essenciais da prática e da deontologia jornalísticas. Ora, se os indivíduos em questão tivessem sido informados previamente, muitos ter

Uma anomalia interessante

  J.-M. Nobre-Correia Circula por aí uma classificação (perdão: um “ranking”, em português modernaço americanizado!) dos jornalistas que são particularmente apreciados pelas agências de comunicação (conhecidas antes pela terminologia mais explícita de “relações públicas”). E há até um jornal económico que, muito estranhamente, não tem pejo algum em vangloriar-se de ter ficado tão bem classificado, sendo “um dos meios de comunicação social com menções por parte dos profissionais de agências de comunicação quando questionados sobre os ‘jornalistas que mais admiram’”, como está escrito no seu próprio sítio (perdão: “site”, saite) na internet!… Ora, e sta classificação e  a sua  publicação  são, na sua anomalia, particularmente interessantes. Pela boa e simples razão que põem  em evidência o descalabro em que se encontra a informação dita jornalística em Portugal.  Uma informação altamente instrumentalizada pelas mais diversas “assessorias de comunicação” de instituições e empresas, de par

Ilustração de uma deriva…

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  J.-M. Nobre-Correia O fim de seman a que passou foi particularmente significativo de como está a evoluir cada vez mais o jornalismo praticado em Portugal… Assim o caso das primeiras páginas do  Diário de Notícias  e do  Jornal de Notícias  de ontem, domingo 29 de outubro. Em princípio, o primeiro é um jornal que se quer de “referência”, apesar do manifesto raquitismo da redação, reduzida a apenas 20 jornalistas (…a comparar com os 540 atualmente do parisiense  Le Monde  e os “mais de 400” do madrileno  El País [1] ), e o magro conteúdo que propõe diariamente aos seus leitores. Enquanto o segundo é, em termos sociológicos, um jornal “popular” de gama média-baixa. Ora, estes posicionamentos editoriais diferentes supõem seleções diferentes dos factos a propor ao leitor, assim como tratamentos jornalísticos diferentes caso haja factos que sejam propostos num e noutro. Por outro lado, um diário “de referência” tem que privilegiar a atualidade política, económica, societal e cultural, rela

Assim se foi destruindo o património…

J.-M. Nobre-Correia Quando, por uma razão ou outra, entro naquela que é agora designada como “Sala de Imprensa” do Casino Fundanense, experimento invariavelmente um sentimento de tristeza, de nostalgia e de revolta… É que, aquela enorme sala vazia — onde se encontram apenas umas poucas máquinas da velha tecnologia tipográfica, inclusivamente uma interessante cópia do prelo de Gutenberg — era antes uma bela sala de teatro à italiana. Com plateia, frisas, balcão, camarote, geral e o seu enorme pano de cena vermelho escuro. Uma bela sala de teatro onde havia cinema (três vezes por semana, se bem me lembro) e algumas vezes espetáculos de teatro e de música. Uma sala que continuou a projetar filmes mesmo depois de ter sido inaugurado em 1958 o Cine-Teatro Gardunha, construído por iniciativa do ex-emigrante António Solipa Pereira. Até que fechou, a demografia do Fundão, e até provavelmente a capacidade financeira das suas gentes, não sendo de natureza a permitir a existência de duas salas de

A minha peregrinação

J.-M. Nobre-Correia Em estadia puramente turística em Cabo Verde, na Ilha de Santiago, considerei ser meu dever de antigo exilado anti-salazarista visitar o Campo de Concentração do Tarrafal, o “campo da morte lenta”. Lá experimentei então três sentimentos. Primeiro, o horror de saber que tantos homens e mulheres foram ali prisioneiros em condições degradantes que só poderiam ter sido absolutamente terríveis. Muitos lá deixaram a saúde e até a vida. Porque ousaram bater-se pela liberdade e/ou melhores condições de vida, perante um regime de terror e de injustiça, reacionário e fascizante, ostensivamente apoiado pelo clericalismo católico. Senti depois uma deceção em relação ao limitado aproveitamento pedagógico de tão vasto espaço de caráter museológico. Não seria desejável que houvesse um entendimento entre os governos de Cabo Verde e de Portugal para que seja este a assumir a manutenção de um vasto espaço em que um único funcionário se limita cobrar o direito de entrada (de 200 escud