Questão de vida ou de morte
J.-M. Nobre-Correia
Jornais : Em matéria de informação
jornalística, a situação em Portugal é cada vez mais grave e mesmo
desesperante, perante a incúria dos responsáveis…
A situação da
informação jornalística em Portugal é bastante insatisfatória e até globalmente
medíocre. E a dos média de informação jornalística é inacreditavelmente
subdesenvolvida. Ultra-subdesenvolvida mesmo, para um país com esta demografia,
este nível cultural (apesar de tudo) e este desenvolvimento económico (não
obstante a crise). Só que, em matéria de média e mais particularmente de
imprensa em papel, não há uma reflexão séria sobre o assunto…
Políticos e homens
de negócios só pedem a deus-nosso-senhor que as coisas continuem assim. Quanto
menos informação séria houver, melhor eles estão de saúde, mantendo os cidadãos
na ignorância do que se passa nessas esferas do poder. E, felizes por
frequentarem os bastidores essas esferas do poder, editores e diretores
preferem nem sequer se interrogarem sobre as razões de um
ultra-subdesenvolvimento que corre a passo acelerado para o abismo final.
Ora, há três
questões essenciais sobre as quais se impõe um reflexão de fundo, a bem da
democracia, do seu bom funcionamento e aprofundamento. A primeira diz respeito
à coerência dos projetos editoriais. Formulando esta interrogação simples mas absolutamente
essencial : quem diz o quê a quem ? Porque os jornais com equipas disformes que falam de tudo e
de nada a públicos totalmente diferentes, não têm, nem nunca tiveram
viabilidade.
A segunda
interrogação consiste em saber se o média dispõe da equipa redatorial adequada.
Em termos quantitativos e qualitativos. Se os seus membros dispõem de uma boa
formação profissional (e o que por aí se faz nesta matéria não é nada famoso).
Se partilham um mesmo projeto editorial. E se souberam adequar-se
convenientemente à evolução tecnológica e editorial da cena mediática. Sem
esquecer, terceira questão, uma séria interrogação sobre a comercialização do
média que, no caso da imprensa, é inacreditavelmente insatisfatória. Mas haverá
por aí alguém neste país com poder de decisão para lançar esta reflexão de vida
ou de morte para a democracia ?…
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 21 de junho de 2014, p. 45.