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Dois fantasmas afrontáveis

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J.-M. Nobre-Correia O pluralismo e a qualidade da imprensa são a urgência. E não debater dos inconvenientes das ajudas públicas ou privadas… No atual prenúncio de debate sobre as ajudas à imprensa, duas oposições clássicas surgem. A dos que são contra as ajudas públicas, sejam quais forem as proveniências. E a daqueles que desconfiam das ajudas privadas, quaisquer que sejam as origens. Duas oposições manifestamente ideológicas, que não tomam em consideração o que se passa de facto nesta matéria no resto da Europa ocidental. As ajudas públicas à imprensa existem em boa parte dos países da Europa ocidental. Por vezes mesmo há longos decénios. Tomando contornos diversos de um país para outro, desde a ajuda nos custos do papel, das comunicações, da impressão ou da distribuição, até à intervenção em reconversões industriais, em formações profissionais ou em iniciativas editoriais. Recentemente, o orçamento de Estado adotado na Alemanha prevê assim um montante de 40 milhões de euros d

Propostas para demarcar um debate

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J.-M. Nobre-Correia Ao que parece, os média vão mal. Há pois quem queira que todos sejam ajudados. Mas há que fazer escolhas… De repente faz-se luz! Que importa que haja quem ande há longos anos a fazer notar que a situação da informação jornalística em Portugal é incrivelmente insuficiente. E que a imprensa de informação geral se encontra num estado perto da miséria. Constatações estas feitas a partir, não de uma qualquer perceção impressionista, mas sim do conhecimento do que são as paisagens mediáticas e jornalísticas para além da fronteira com o país vizinho… Pouco importa! O facto é que tal triste situação passa agora a ser tema de discussões, artigos e colóquios diversos. Regozijemo-nos, pois, com isso. Embora tenhamos que constatar que se manifestam por aí ambições claramente desmedidas. Como se fazem também muitas afirmações desprovidas do mais elementar fundamento. Por obras de magia descobre-se que os média portugueses precisam de ajuda. Mas de uma ajuda indiferencia

Catalunha : as razões de uma retirada

No  Público  desta manhã apareceu um manifesto pela Catalunha intitulado “Contra a judicialização da política”, assinado por quatro autores e subscrito por várias dezenas de pessoas. Na realidade, este manifesto tinha na origem cinco coautores, sendo eu um deles. Como já tinha sido aliás o caso com o manifesto intitulado “Pela democracia e pela liberdade na Catalunha” publicado no mesmo jornal em 23 de abril. A explicação para o facto do manifesto de hoje ter apenas quatro autores é simples. Preparado desde sábado 12, na perspetiva da sentença que seria pronunciada na segunda-feira 14, o texto final foi-me submetido na manhã de sexta-feira 18, pouco antes de ser endereçado ao  Público . Descobri então que o manifesto era subscrito por quatro dirigentes da Fenprof, entre os quais Mário Nogueira. Note-se que, salvo um único caso, a Fenprof é o único sindicato (ou federação) a estar representado entre os subscritores. Ora, eu considero há muito que Nogueira é um provocador raivoso da

Questões de democracia e de calendário

J.-M. Nobre-Correia Dizem os francófonos, naquela que é minha outra língua, que …il y a des choses qu’on ne dit pas, mais cela va mieux en le disant.  Com duas traduções possíveis : há coisas que não se dizem, mas mais vale dizê-las / sentimo-nos melhor dizendo-as ! Tenho para mim, há muitos, muitos anos, que há três instituições que não foram devidamente democratizadas depois do 25 de Abril : a Justiça (eternamente insatisfatória, lenta e conservadora), a Diplomacia (elitista, mundana e conservadora) e as Forças Armadas (tendo o 25 de Abril tido como origem um golpe militar, quem não foi saneado foi sobrevivendo entre os sobressaltos da democracia). E, pelo menos no que diz respeito à Justiça e às Forças Armadas, é manifesto que elas vivem em roda livre, longe do controlo mais elementar das instituições democráticas. O que se está a passar atualmente com a Justiça e com as Forças Armadas é significativo. Manifestamente na (inacreditável e escandalosa) questão de Tancos, os mili

Portugal : le "modèle". Quel modèle ?

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La droite comme l’extrême gauche annonçaient l’expérience de majorité parlementaire de gauche comme condamnée d’avance. Quatre ans après, en fin de législature, le bilan est largement satisfaisant et annonce peut-être même un avenir prometteur… Soudain, après avoir ignoré « l’expérience portugaise »  [1] , l’Europe, de Madrid à Bruxelles en tout cas, se met à évoquer « le modèle portugais ». Mais est-ce qu’il s’agit vraiment d’un « modèle » ? Et en quoi consiste-t-il ? La première chose qu’il faut savoir c’est que le « modèle portugais » n’a vraiment pas été le fruit d’une élaboration stratégique préalable. Ce fut plutôt la conséquence de deux événements malheureux. D’abord, une coalition de droite, réunissant PSD et CDS  [2] , qui a gouverné le pays de juin 2011 à novembre 2015, rabotant de nombreux acquis sociaux, augmentant fortement le chômage, poussant à l’émigration, remettant entre les mains d’intérêts étrangers bon nombre d’entreprises majeures du tissu économique, laiss

A informação que temos ou não…

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J.-M. Nobre-Correia Os governos deste país não podem continuar a alhear-se das condições em que operam os média em matéria de jornalismo… Em recente entrevista na  Visão , é perguntado ao primeiro-ministro o que conta fazer em matéria de ajuda pública à imprensa. Mas António Costa esquiva a questão. Comete assim um erro na avaliação que faz implicitamente do estado da democracia e da cidadania em Portugal. Porque, em termos gerais, os cidadãos são insuficientemente informados e globalmente mal informados. Como poderá desde logo o sistema democrático funcionar de maneira satisfatória, com uma participação ativa e responsável dos cidadãos? Portugal é o país de Europa ocidental onde se publicam menos jornais de informação geral de caráter nacional. Mas é também aquele em que as difusões são mais baixas, com uma taxa de penetração nove vezes inferior ao que é na Escandinávia, por exemplo. E a estes infortúnios vem acrescentar-se uma prática jornalística insatisfatória, vítima de red

No caminho para o abismo

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J.-M. Nobre-Correia Portugal sempre teve uma imprensa de informação geral fraca. E vai acumulando erros de estratégias editorial e comercial… Muitas são as razões que explicam que Portugal seja o país de Europa ocidental com a imprensa de informação geral mais pobre. Desde o preço de venda elevado até à distribuição totalmente insatisfatória. Do conteúdo quantitativamente pouco abundante e bem pouco variado. Da cobertura manifestamente insuficiente da atualidade do país e demasiado centrada na grande Lisboa. De uma atualidade internacional escassa e pouco original, baseada sobretudo em raras agências de informação e raros jornais estrangeiros (quase unicamente anglo-estado-unidenses ou espanhóis). É claro que há também razões históricas para explicar o subdesenvolvimento. A imprensa e nomeadamente a imprensa diária apareceram mais tarde em Portugal do que em boa parte dos países europeus. Durante o século de afirmação da imprensa de informação (1830-1930), Portugal balançou regu

Uma obsessiva omnipresença

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J.-M. Nobre-Correia No pós-25 de Abril, o atual chefe de Estado concebeu informação em proveito próprio que em nada dignifica o jornalismo… É evidente que, depois da manifesta falta de dimensão de homem de Estado do seu predecessor, o novo titular da função teria um acolhimento positivo. E como o novo eleito é um personagem caloroso e sorridente, quando o outro era cinzentonamente crispado, grande parte dos cidadãos acolheu-o naturalmente com curiosidade, simpatia e até entusiasmo. No entanto, é notório que o atual presidente da República foi lentamente alargando o espaço da sua intervenção pública. Ultrapassando cada vez mais os limites da função e tomando repetidamente iniciativas que, nos termos da Constituição, não são da sua competência. Abuso que só a fragilidade parlamentar congénita do presente governo permite compreender que não suscite confrontações graves e seja tolerado. Mas há um domínio em que a conceção da presidência pelo atual locatário de Belém é absolutament

Mon hommage à Michel Fromont

Personne qui a eu de très hautes responsabilités dans les médias belges me dit, de Bruxelles, que  Le Soir n’a pas consacré un seul mot au tout récent décès de Michel Fromont. Michel Fromont a été directeur général de  La Nouvelle Gazette , d’abord, de  La Meuse , ensuite, et du group Sud Presse qu’il a réé, finalement. Et c’esr en tant que directeur général de  La Nouvelle Gazette que, un des tout premiers, il z u le sentiment qu’il fallait que la presse quotidienne se diversifie vers les radios locales naissantes et a lancé  RFM Charleroi en 1983, si j’ai bon souvenir (n’ayant pas ma documentation sous la main). Avant ça, Michel Fromont a été secrétaire général de l’AGJPB, jouant le rôle que l’on imagine aisément au sein de cette association professionnelle forcément présente dans l’actualité des médias. Michel Fromont joua surtout un rôle important et déterminant dans l’opposition frontale à l’arrivée de Robert Hersant au sein du groupe Rossel et plus particulièrement dans la

Do grau zero da “análise”

J.-M. Nobre-Correia Miguel Sousa Tavares ou a indigência de um certo “colunismo” de “comentador” todo-o-terreno… Estamos assim: Miguel Sousa Tavares, grande especialista em todas as matérias (política nacional, política internacional, economia, finanças, ecologia, futebol…) propôs aos leitores do  Expresso de sábado passado um texto em que fala nomeadamente do Alqueva sob o título “A Catalunha e Espanha” ! Para além disto, Sousa Tavares não propõe a mínima informação inédita nem a mais ténue argumentação sobre o tema anunciado pelo título. Antes se limita a alinhar insultos a “intelectuais — alguns do tipo pronto-a-vestir e pronto-a-aderir”, muitos dos quais professores universitários reconhecidos internacionalmente, que ousaram publicar no  Público de 23 de abril um manifesto assinado por 63 individualidades : “Pela democracia e pelas liberdades na Catalunha”  [i] . Assim como ao “anterior chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, do PP, a quem, entre outras debilidades, a inte

O descalabro anunciado

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J.-M. Nobre-Correia Sindicatos, ordens e ligas são geralmente fatores de reforço do Estado democrático. Não é isso que acontece em Portugal… Um vento nauseabundo sopra sobre a Europa. Um após outro, os pilares fundamentais das sociedades democráticas vão-se desmoronando. De maneira estrondosa na chamada “Outra Europa”. Aquela para a qual a União Europeia quis alargar-se por pura opção anti-russa, quando boa parte desses países não partilharam uma história comum com a Europa Ocidental. Para constatarmos agora que o compreensível anti-soviétismo deles era fruto de considerações histórico-culturais e não exatamente de um real desejo de vida em democracia liberal. E os melhores exemplos de “democraturas” autoritárias são agora a Hungria e a Polónia. Para cá da antiga “cortina de ferro”, os pilares da democracia pluralista desde o século XIX e sobretudo desde após a Segunda Guerra Mundial vacilam fortemente. Com o fim das grandes famílias políticas (e não apenas dos partidos) na Itál

Sinal dos tempos em que vivemos

J.-M. Nobre-Correia Homenagem, ontem, a José Afonso, por ocasião da passagem do 32° aniversário do seu falecimento. Estavam presentes umas 150 pessoas. Mas nem uma com menos de uns 50-60 anos ! Todas com uns 60, 70 ou mesmo mais de 80 anos… As novas gerações deste país desconhecem o que José Afonso representou nos tempos do salazarismo. O que as letras de muitos dos seus cantos manifestavam como resistência à ditadura, à miséria, à repressão. O que as músicas de muitos dos seus cantos representavam como redescoberta de um formidável cancioneiro popular lamentavelmente esquecido. Esta ausência dos jovens traduz de facto um triste sinal dos tempos em que vivemos. E um triste reflexo dos programas de média audiovisuais nacionais em que impera a música anglófona, mais umas brasileirices e as musiquinhas dos amigalhaços/as com quem se partilham copos, comezainas, festas e namoradas/os. Média audiovisuais que soberanamente ignoram as músicas espanhola, francesa, italiana,… Músicas d