Uma obsessão suicidária


Nos países por onde andei, estudei e trabalhei, e de continuo a seguir diariamente os média, há uma constante que nunca fui capaz de compreender. Ou melhor: apesar de uma das minhas formações ser nessa área académica, nunca fui capaz de compreender tal tática ou estratégia política.

De facto, nunca fui sobretudo capaz de compreender politicamente que formações de esquerda radical ou de extrema esquerda, nas declarações dos seus dirigentes, nas entrevistas e nas análises nos média, nas intervenções nos parlamentos (quando lá têm representantes), tenham como preocupação obsessiva permanente atacar antes do mais as outras componentes da esquerda. E sobretudo atacar aquela que, em termos eleitorais e também, quase sempre, em termos sociais e sindicais, é a principal componente da esquerda.

A razão desta preocupação obsessiva? Porque, segundo essas formações minoritárias, esta principal componente era ou é “revisionista” (termo que passou de moda há já bastante tempo!), ou “social-democrata” (…no sentido histórico e europeu do termo) ou mais recentemente “social-liberal”, quando não é mesmo adjetivada com qualificativos ainda mais desagradáveis, do género “social-traidora”…

Ora, tais propósitos incendiários e mais ou menos ofensivos mostram sobretudo que provêm de gente com uma certa falta de lucidez. Pela boa e simples razão que nunca se viu uma formação minoritária de esquerda chegar ao poder local, regional ou nacional (quer dizer: à possibilidade de administração da coisa pública) sem ser numa aliança com a componente maioritária da esquerda. A não ser que, num acesso de cegueira política, a dita formação minoritária se tenha enredado em alianças ou coligações contranatura que, in fine, anunciam de facto o seu próprio canto do cisne. E, nas páginas da História, são numerosos os suicídios de formações políticas…

  

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