Mensagens

Os discretos talentos de um homem

J.-M. Nobre-Correia Na brutalidade clássica das chamadas redes sociais, surge a notícia: faleceu o Diamantino Gonçalves! Assim: de maneira totalmente imprevisível, como só a Morte tem a ousadia e a cobardia de fazer. Quando até ainda há poucos dias o sereno sorriso (quase) permanente do Diamantino iluminava sempre os nossos encontros programados ou imprevistos… Diamantino Gonçalves era um ser magnífico. Um apaixonado pela história local que o levava muito longe, bem para lá dos contornos naturais da Cova da Beira. Uma história sobre a qual pesquisava, dando-nos a conhecer documentos particularmente originais e de manifesto interesse. Mas era também e sobretudo um brilhante fotógrafo, pelos temas, os enquadramentos e a luminosidade que tinha o talento de escolher na sua captação das imagens. Diamantino Gonçalves era também um homem de convicções fortes e afirmadas sem rodeios, perante o ceticismo e as opiniões eventualmente divergentes do seu interlocutor. Diamantino Gonçalves fará falt

Das cortinas de fumo como estratégia

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Na atualidade dos últimos meses, há assuntos realmente importantes e os que só têm como razão de ser fazê-los esquecer…  É possível que o assunto faça objeto de conversas entre profissionais à mesa de café, em cenáculos menos restritos ou até em salas de redação. Nada porém transpira, que se saiba, para fora destes possíveis círculos. Estamos no entanto há meses perante uma situação altamente preocupante em termos políticos como jornalísticos. Quando até é bem conhecido este mecanismo de distorção da informação que procura atenuar ou escamotear factos realmente importantes…   A teoria é clara: um pseudoacontecimento é criado por um ator ou instância de poder, de modo a atenuar o impacto de uma informação desfavorável (é a primeira hipótese) ou a escamotear o verdadeiro acontecimento com incidências bastante negativas (segunda hipótese). E os exemplos têm abundado em diversos países, nas mais diversas situações. Quando em finais dos anos 1960, os Estados Unidos sofre

Une sorte de nostalgie

J.-M. Nobre-Correia Puis-je faire un aveu?… Je cherche tous les jours à voir le journal télévisé (le jité) de 13h00 de la RTBF 1!… D'abord parce que, du fait de la différence d'heure, le JT de la RTBF arrive à 12h00 portugaise et donc avant les principaux journaux des télévisions généralistes portugaises… Ensuite, j'ai quand même vécu peut-être beaucoup plus longtemps dans mon autre pays, la Belgique (45 ans et 3 mois), que dans celui où je suis né, le Portugal. Et j'ai donc envie de savoir ce qui se passe dans ce pays qui est aussi le mien et où je connais tant de gens dont parle le JT et j'ai mes meilleurs amis… Puis, il me plait d'être informé par un journal conçu autrement, qui aborde l'actualité dans une démarche et un ton bien plus sereins que par les télévisions portugaise. Enfin, last but not least, j'y vois et entends chaque fois d'anciens étudiants, 12, 20, 30, 40, 50 ans après. Et, très curieusement, je me souviens toujours d'eux, de l

As gémeas brasileiras de novo

J.-M. Nobre-Correia Depois das eleições e da entrada em funções do novo governo, a maneira como os média voltam agora a tratar o assunto das gémeas brasileiras deixa claramente transparecer a omnipresença do golpista incontinente de Belém na filtragem da informação a que temos direito… Assim se vai afundando a credibilidade do jornalismo em Portugal: pobres de nós, simples cidadãos!… ADENDA: uma hora depois de ter escrito estas linhas, chega-me às mãos a edição de hoje do  Expresso  que põe particularmente em evidência uma série de intervenções dos serviços de Belém neste dossiê: aleluia!…  

Fatores claramente determinantes

J.-M. Nobre-Correia Inicia-se hoje uma nova etapa da vida política portuguesa. Como seremos doravante informados pelos média?… Num artigo publicado hoje na edição do diário parisiense  Le Monde  sobre a situação dos média na Hungria de Viktor Orban e aquela que corre o risco de se afirmar em França, por iniciativa do multimilionário Vincent Bolloré, é citado o diretor de gabinete do primeiro: “Aquele que controla os média de um país decide quem controla o pensamento deste país e, assim, quem controla este país”. Uma afirmação que deveria fazer refletir sobre a situação em Portugal… Que se saiba, os média são há longos anos dominados em Portugal por gente próxima da direita e mesmo da extrema-direita. E são-no em termos de propriedade, de direções da informação e da programação, como de jornalistas com um certo peso na hierarquia das redações para não falar sequer da chusma omnipresente de “comentadores” de todo o tipo. O que não quer dizer que boa parte deles sejam de modo algum milita

O plano de urgência que se impõe

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Fala-se muito do futuro do grupo proprietário do  Diário de Notícias  e do próprio jornal, quando as razões para os salvar são por demais evidentes… Iremos nós ficar ainda mais pobres? É que a paisagem da imprensa de informação geral em Portugal é já singularmente mísera. Sobretudo a da imprensa diária. Com a área e a demografia que são as suas, Portugal conta inacreditavelmente menos diários generalistas do que países europeus até mais pequenos como a Bélgica, a Suíça, a Áustria, por exemplo. Ora os dois primeiros contam populações de diferentes línguas. E, se excetuarmos o romanche suíço ultraminoritário, nenhum deles dispõe de língua própria, recorrendo à(s) de países limítrofes. Pelo que o potencial de difusão da imprensa nas diversas regiões linguísticas é limitado. Não impede que neles haja diários com por vezes centenas de milhares de exemplares de difusão paga, apesar de os seus cidadãos poderem preferir ler os dos grandes vizinhos e não os do próprio país.

Interrogações escamoteadas

Imagem
J.-M. Nobre-Correia As eleições legislativas provocaram vagos sobressaltos em meios políticos e mediáticos. Aspetos há porém totalmente “esquecidos”… Ao que parece, estamos em tempo de reflexão. É pelo menos o que políticos e editorialistas dizem por aí. Proclamando que há que procurar compreender o que está na origem do abanão provocado pelas eleições legislativas. Há mesmo quem avance já que é na conduta de políticos, partidos e governo que serão encontradas as razões. E é de facto plausível que seja num contexto sociopolítico singular que tais movimentações tenham tendência a operar-se. É pena que os mesmos editorialistas ou analistas não se interroguem sobre o papel que poderão ter tido os média para o que aconteceu. Houve um diretor de informação que propôs “um caldo de cultura” como explicação para a origem do abanão. Esquecendo que são precisamente os média (tradicionais ou novos), e mais especialmente a televisão, socialmente dominante, que sobretudo fornecessem os ingredientes