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Média e jornalismo em democracia

J.-M. Nobre-Correia   Será a informação a que temos direito de natureza a nos permitir ser cidadãos no mais amplo sentido do termo?…   É preciso ler, ouvir e ver média de países da nossa própria área geográfica e cultural para nos darmos conta até que ponto a informação jornalística vai mal no “país à beira-mar plantado”. Ou melhor: não espreitá-los apenas de raspão, mas frequentá-los assiduamente com a devida atenção crítica. E procurar então compreender o porquê da situação em Portugal. Oh!, as insuficiências da informação jornalística vêm de longe, consequência de um velho país cedo ultracentralizado, vivendo durante séculos num analfabetismo largamente enraizado e naturalmente desprovido de preocupações culturais. A sua paisagem mediática nasceu assim disforme, praticamente circunscrita a uma estreita faixa do litoral Centro-Norte, tendo como ponto de apoio Lisboa e muito acessoriamente o Porto. Acrescentemos a tais dados de base o facto de os mecanismos de controlo da criação de n

Conceber uma ambição para a Lusa - 3

No seguimento da publicação aqui (em 16 de agosto) do meu artigo publicado no "Expresso" de 15 de agosto e do texto de um Leitor (não identificado, mas do meu conhecimento, em 19 de agosto), recebi de Afonso Camões (que foi administrador não executivo da Lusa entre 2005 e 2009, e presidente e administrador executivo entre 2009 e 2014) um longo texto que já tem alguns anos mas que continua a ter grande interessante para compreender a importância da Lusa no contexto mediático nacional e lusófono… ••••• […] Cheguei à Lusa no outono de 2005, nomeado como administrador não executivo, em representação do acionista Lusomundo Média, designação do maior acionista privado da agência, que mudou posteriormente para Controlinveste e, depois ainda, para Global Media Group. Em princípios de 2009, fui eleito pela primeira vez presidente e administrador executivo, pela unanimidade dos acionistas, em assembleia geral, tendo sido reconduzido para novo mandato em 2012. Quando em outubro de 2014

Conceber uma ambição para a Lusa - 2

Um Leitor altamente conhecedor do funcionamento da agência Lusa endereçou-me uma reação ao artigo que publiquei no "Expresso" de quinta-feira 15 de agosto. Porque considero o seu texto extremamente interessante, pedi-lhe para o poder publicar aqui no meu blogue, limitando-me a suprimir, com o consentimento dele, dois curtos parágrafos iniciais e outro final de caráter mais pessoal, e a não indicar o nome do Autor. Aqui fica esta importantíssima contribuição para um debate sobre o futuro da agência de informação em língua portuguesa… ••••• "[…] não posso deixar de lhe dizer o seguinte:   Do meu ponto de vista fez o Estado muito bem em comprar a quase totalidade do capital da Lusa. E só não é a totalidade porque há acionistas que estão desaparecidos em combate, faliram ou pura e simplesmente desapareceram.   E porque fez bem o Estado? Porque pura e simplesmente os privados não vêem qualquer interesse em manter-se como acionistas da Lusa e, para a Lusa, esses acionistas não

Conceber uma ambição para a Lusa

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Portugal não pode contentar-se em dispor de uma agência de informação tão limitada no seu perímetro de ação…   J.-M. Nobre-Correia No último dia de julho, o Estado compra participações de acionistas privados na agência  Lusa  e passa a deter 95,86% do seu capital. Notícia que cai na indiferença geral de um país em férias. E até mesmo numa relativa distração dos média, quando  Lusa  dispõe em Portugal de um estatuto de monopólio de facto como agência de informação geral. Quando em boa parte dos países vizinhos, a grande agência nacional de informação conta com uma ou mais concorrentes que lhe disputam clientes, propondo abordagens diferentes da atualidade. Que esta alteração de fundo não tenha “provocado ondas”, traduz bem a inconsistência de um meio político que, na sua maioria, prefere média canalizadores de comunicação oficiosa e não vigilantes atentos e críticos da atualidade. Mas é também o reflexo de um panorama mediático nacional particularmente pobre. Com uma imprensa diária e s

Uma questão de princípios

J.-M. Nobre-Correia Nunca tive alma de militante político! Ou mais exatamente: ser militante de um partido político nunca foi “ma tasse de thé”. Pela simples razão que sempre quis pensar pela minha cabeça e não alinhar em posições adotadas por instâncias dirigentes de um partido e seguir disciplinadamente o que elas decidiram. Mas, para que seja bem claro, até tenho uma certa admiração e respeito pelos militantes que se investem desinteressadamente na vida da “polis”. Dito isto, a vida política sempre me interessou como observador exterior, como leitor de jornais e livros na matéria e como cidadão “engagé” em questões que considero fundamentais em termos de Democracia pluralista, de Estado de direito e de Justiça social. O que explica que uma das minhas formações académicas seja precisamente em ciências políticas.  Não impede que, apesar de viver agora em Portugal, após uma vida académica como estudante e como profissional, inteiramente desenrolada prioritariamente no estrangeiro, eu c

Os discretos talentos de um homem

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nova versão ligeiramente ampliada J.-M. Nobre-Correia Na brutalidade clássica das chamadas redes sociais, surge a notícia: faleceu o Diamantino Gonçalves! Assim: de maneira totalmente imprevisível, como só a Morte tem a ousadia e a cobardia de fazer. Quando até ainda há poucos dias o sereno sorriso (quase) permanente do Diamantino iluminava sempre os nossos encontros programados ou imprevistos… Diamantino Gonçalves era um ser magnífico. Um apaixonado pela história local que o levava muito longe, bem para lá dos contornos naturais da Cova da Beira. Uma história sobre a qual pesquisava, dando-nos a conhecer documentos particularmente originais e de manifesto interesse, fazendo-nos descobrir lugares, personagens e momentos singulares. Mas era também e sobretudo um brilhante fotógrafo, pelos temas, os enquadramentos e a luminosidade que tinha o talento de escolher na sua captação das imagens, quantas vezes, de uma formidável e delicada beleza… Diamantino Gonçalves era também um homem de co

Os discretos talentos de um homem

J.-M. Nobre-Correia Na brutalidade clássica das chamadas redes sociais, surge a notícia: faleceu o Diamantino Gonçalves! Assim: de maneira totalmente imprevisível, como só a Morte tem a ousadia e a cobardia de fazer. Quando até ainda há poucos dias o sereno sorriso (quase) permanente do Diamantino iluminava sempre os nossos encontros programados ou imprevistos… Diamantino Gonçalves era um ser magnífico. Um apaixonado pela história local que o levava muito longe, bem para lá dos contornos naturais da Cova da Beira. Uma história sobre a qual pesquisava, dando-nos a conhecer documentos particularmente originais e de manifesto interesse. Mas era também e sobretudo um brilhante fotógrafo, pelos temas, os enquadramentos e a luminosidade que tinha o talento de escolher na sua captação das imagens. Diamantino Gonçalves era também um homem de convicções fortes e afirmadas sem rodeios, perante o ceticismo e as opiniões eventualmente divergentes do seu interlocutor. Diamantino Gonçalves fará falt