Dos termos e das noções
J.-M. Nobre-Correia
Nos meus escritos (textos de imprensa grande público, artigos académicos ou livros), sempre tive a preocupação de não recorrer a chavões de natureza política. E isto quando existem termos específicos que caraterizam mais concretamente uma situação ou um personagem. Por isso preferi sempre salazarismo ou franquismo a fascismo, até porque cada um destes termos correspondente de facto a situações históricas, socioculturais e políticas particulares, específicas, não diretamente assimiláveis ao fascismo italiano.
É no entanto verdade que, se procurarmos um termo genérico para globalizar estes diferentes regimes na Europa e até no mundo, é o termo fascismo que permite esta inclusão de todos nas suas variantes.
A singularidade do nazismo nos anos 1930-40 fez que tal terminologia seja praticamente reservada ao regime nascido na Alemanha. E raramente seja utilizado para, desde então, definir outras situações políticas. Situações políticas certo diferentes, historicamente falando, mas comparáveis no que diz respeito aos efeitos, nomeadamente no que se refere à preocupação genocidária com vista a eliminar populações com caraterísticas socioculturais particulares. Caraterísticas que os nazis definiam como “raciais”.
Ora, os métodos variam quando os genocidas são alemães, cambojanos, tutsis ou israelitas: é uma evidência. Mas a razão de ser, a motivação dominante é semelhante: eliminar uma população ou parte dela. E é o que o acontece desde há dois anos com a ação permanente de Israel nos territórios palestinianos de Gaza e de Cisjordânia.
Que impede então que se qualifique Israel como um Estado dominado por uma extrema-direita fascistoide que pratica regularmente um terrorismo em relação aos países vizinhos? Países vizinhos que os especialistas da propaganda e da desinformação preferem sempre designar pelos nomes de grupos locais de resistência e escamoteando voluntariamente sempre o nome oficial do Estado vítima das ações terroristas de Israel.
E, indo até mais longe, o que impede que a ação genocidária desencadeada por Israel em relação aos palestinianos, “enfeitada” de declarações perfeitamente inacreditáveis de personagens oficiais israelitas sobre os palestinianos e a Palestina, seja qualificada de nazi?…
Seja como for, o que há de terrivelmente trágico é ver filhos e netos das vítimas dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial transformarem-se agora em novos nazis dos palestinianos !…
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