Para perceber os caminhos da informação jornalística

Em obra há pouco publicada, o especialista de médio Nobre-Correia apresenta os caminhos da produção jornalística
1. Que diferença faz a obraTeoria da Informação jornalísticano panorama das obras sobre comunicação e comunicação jornalística?
Direi antes do mais que faço uma distinção essencial. Há por um lado a chamada comunicação, que tem por origem as assessorias de empresas e instituições, e que está ao serviço dos interesses destas. Hápor outro lado a informação, fruto da produção jornalística e que está ao serviço dos cidadãos leitores, ouvintes, espectadores ou internautas. Nesta perspetiva, a Teoria da Informação Jornalísticaparece-me ser bastante original no panorama editorial português onde há alguns manuais que tratam da técnica jornalística, de como executar diferentes tarefas jornalísticas. Enquanto o meu livro consiste numa abordagem do funcionamento do sistema da informação, dos seus aspetos teóricos e dos seus mecanismos práticos. Há assim nele uma iniciação teórica à prática jornalística e uma crítica da informação proposta ao cidadão. Por outro lado, este livro foi concebido numa perspetiva europeia, abordando práticas jornalísticas em diferentes países da União Europeia, o que penso ser único no panorama editorial português.
2. A obra responde aos problemas decorrentes das novas formas de comunicação relacionadas com as redes/plataformas sociais?
O livro trata da conceção e da prática jornalísticas, como elas se foram afirmando desde o século XIX e sobretudo desde a industrialização da imprensa escrita. E a conceção como a prática jornalísticas no sentido forte deste adjetivo tanto diz respeito à informação impressa, como à radiofónica, à televisiva ou àquela que tem a internet como veículo de difusão.
3. Quais serão, na sua perspectiva, as tendências futuras da comunicação jornalística?
Fundamentalmente o que foi evoluindo desde os fins do século XIX com a multiplicação das edições dos diários ao longo do dia, e depois com a noção da informação em direto (primeiro com a rádio, depois com a televisão e agora com a internet) é a noção de informação em tempo real : levar ao conhecimento do público acontecimentos da atualidade no momento mesmo em que se estão a desenrolar. Por outro lado, o mundo passou a ser uma aldeia planetária, todos nós podendo em princípio seguir a atualidade na outra ponta do mundo a partir de média localizados nessa mesma zona do mundo. Por outro lado, todo e qualquer indivíduo passou a ter a possibilidade técnica de poder ser não apenas consumidor de informação, mas ele próprio produtor de informação. Porém, os grandes princípios da informação jornalística continuam a ser de atualidade, a prática multifacetada do jornalismo, assim como a arquitetura e o funcionamento das redações é que estão a mudar substancialmente.
4. O jornalismo regional tem condições de afirmação face ao domínio dos grandes media? De que modo?
O jornalismo regional sempre teve e continua a ter condições de afirmação face aos grandes média. Porque, como explico no segundo ponto do primeiro capítulo, as pessoas interessam-se antes do mais pelo que se passa no espaço imediato em que vivem, pelas pessoas e os sítios que conhecem. Mas o jornalismo regional supõe dois requisitos essenciais. O primeiro destes requisitos é que a informação proposta tem que ser extremamente rigorosa e precisa, porque as pessoas conhecem precisamente aqueles de que se fala e muitos dos aspetos dos assuntos de que se fala. O segundo é que a informação não pode transformar-se numa comunicação oficiosa das instituições e das empresas da região, dos poderes constituídos : tem que praticar a devida distância, a indispensável verificação dos elementos fatuais e o desejável sentido crítico em relação às pessoas e aos acontecimentos que são abordados.
5. De que forma pode o jornalismo regional ultrapassar o ‘jornalismo sentado’?
Não ficando “sentado” e indo precisamente para “o terreno”. Não fazer um jornalismo à base de comunicados, telefonemas ou mesmo conferências de imprensa, mas indo para a rua, para os bairros da cidade, para as aldeias e vilas da região, lá onde se passa a vida quotidiana das pessoas, entrando em contacto com elas e com situações de que elas lhes falam ou que os jornalistas descobrem ao dobrar da esquina da rua…
J.-M. Nobre-Correia, Teoria da Informação Jornalística, Almedina, 362 pp.
Texto publicado no diário As Beiras, Coimbra, 24 de maio de 2018, p. 29.

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