A terra que queremos nossa

J.-M. Nobre-Correia

Oiço repetidamente falar de jovens portugueses que emigram. E quem deles fala, atribui rapidamente responsabilidades ao governo (seja ele de que cor politica for). Mas só a ignorância ou a má-fé explicam muitas vezes tal atribuição de responsabilidades…

Quando eu saí de Portugal em 1966, nunca tinha cruzado um só estrangeiro residente no país, turistas de passem sim. E, na “capital do império”, o único negro que conheci era um jovem médico moçambicano. Portugal era então terra de portuguesinhos “branquinhos” que viviam segundo os “bons hábitos” de sempre, fechados sobre si mesmos, sem se interrogarem e porem questão o seu modo de vida!…

Meio século depois, todos nós conhecemos à nossa volta gente vinda dos mais diversos horizontes. Mesmo na minha terra de origem, no chamado “Portugal do interior”, há gente vinda dos quatro continentes (ignoro se também a haverá vinda do quinto, a Oceânia). E ainda ontem almocei, para as bandas do Mondego, num restaurante onde o empregado de mesa que nos serviu era um amável sujeito vindo do Uzbequistão. Fala português, foi ao país de origem casar com uma compatriota, tem dois filhos já nascidos em Portugal! Depois, quando chegámos à sobremesa e ao café, foi um brasileiro de origem italiana que nos serviu!

É que, em poucos decénios, as condições gerais de vida mudaram profundamente. O cinema, primeiro, e mais recentemente a televisão e sobretudo a internet levaram imagens de outras paragens, próximas ou longínquas, aos cidadãos do todo o mundo. Enquanto os meios de transporte tomaram uma amplidão historicamente sem igual, os custos das deslocações tendo entretanto baixado consideravelmente.

Estas profundas mutações favoreceram fortemente os movimentos migratórios. Hoje em dia, há cada vez mais indivíduos, e sobretudo jovens, que querem ver como se vive noutras terras, noutros países, noutros continentes. E de eventualmente passar a residir lá. Porque o clima é mais agradável, a vida social é mais animada ou mais calma, as condições de vida são melhores, as possibilidades de exercer uma profissão são mais concretas, o trabalho é mais bem remunerado,…

Vivemos assim cada vez mais numa “aldeia planetária”, convivendo quotidianamente com a pluriculturalidade da humanidade, comunicando pelo som e a imagem com amigos e conhecidos espalhados por este mundo fora, como se já não houvesse fronteiras nem distâncias…

Como noutros países europeus, nunca em Portugal houve uma tal pluralidade de origens e de culturas, as imigrações fazendo doravante concorrência no plano internet às emigrações. E não é por culpa deste ou daquele governo que as pessoas emigram, mas sim porque passou a ser natural que cada um vá em procura de uma terra e de uma situação em que esperam realizar-se melhor e ser mais felizes…

A emigração como a imigração nem sempre são escolhas forçadas e dolorosas. São também por vezes escolhas voluntárias em busca de uma vida diferente e melhor!…

  

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