O empecilho falante

J.-M. Nobre-Correia

É bem conhecido o egocentrismo exibicionista do residente em Belém. Mas a sua irresponsabilidade torna-se também cada vez mais evidente nestes últimos tempos. Hoje disse assim que tenciona deslocar-se nos próximos dias a hospitais que conhecem atualmente problemas para se inteirar da situação. À parte a necessidade obsessiva que ele tem de se pôr constantemente em evidência perante os média, o que é que lá vai fazer?!

Permito-me transcrever aqui um parágrafo das pp. 185-186 do meu livro Teoria da Informação Jornalística, publicado pela Almedina: “Esta preocupação de se pôr em valor, em bicos dos pés, de estar omnipresente lá onde, como consequência da atualidade, se encontram as câmaras de vídeo, suscita práticas dos meios políticos que passaram a ser correntes: «Não há falecimento que não seja preciso saudar com um elogio lacrimoso. Nem uma libertação de reféns que não exija uma presença presidencial ou governamental na pista de aterragem. Nem um crime que não seja preciso estigmatizar com um comunicado consternado e vingador. Nem um drama que possa dispensar uma presença ministerial compadecida e dispensadora de promessas no terreno […]. O mais cómico — ou o mais triste, como quiserem — é que estas presenças ministeriais são inúteis e prejudiciais: inúteis porque se decide mais lucidamente na calma do seu gabinete do que com os pés na lama: prejudiciais porque as medidas protocolares e de segurança exigidas pelas deslocações perturbam as operações de socorro. Tratar-se-á, como se diz, de reconfortar as vítimas? Mas, então, porquê embaraçar-se com um esquadrão de portadores de câmaras que dificultam o contacto humano, isolam o visitante dos que ele veio, supostamente, consolar? Basta de hipocrisia! Trata-se sempre e muito simplesmente de ser visto na televisão […]. E tanto a habilidade dos comunicantes como a ingenuidade do público vão mesmo até fazer de maneira que isso seja suficiente: ser visto é ter feito», como escreve Albert du Roy”.

A citação de Albert du Roy provém das pp. 69-70 do seu livro La Mort de l’information, publicado pela Stock. Entre outras funções, du Roy foi chefe de redação de Le Nouvel Observateur e diretor da redação de Antenne 2 (a futura France 2), de L’Évenement du Jeudi e de L’Expansion, assim como diretor geral adjunto de France 2.

 

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