Uma iniciativa magnífica

J.-M. Nobre-Correia

Diamantino Gonçalves está a realizar um trabalho que ficará certamente como um contributo essencial para a história local…

O Fundão de hoje corresponde pouquíssimo à recordação que eu tinha da minha terra, da terra onde nasci. Mas é possível, acredito, que, durante longos decénios, eu tenha pintado o Fundão na minha memória com cores encantadoras que de facto não correspondiam ou correspondiam pouco à realidade de há uns 50 anos…

Seja como for, o facto é, para mim, que a sociabilidade no Fundão morreu. Que uma certa dinâmica e um certo orgulho (justificado) morreram também. Que esta vila promovida a cidade está socialmente inerte, amorfa. E que, por conseguinte, tudo se passa hoje numa total indiferença, numa total letargia social…

Vejamos um caso significativo: Diamantino Gonçalves, técnico de ótica ocular reconhecido, está a fazer, por iniciativa própria, um trabalho absolutamente excecional de levantamento fotográfico sistemático do matrimónio arquitetónico e urbanístico das vilas, aldeias e lugares do concelho do Fundão. Um trabalho absolutamente notável que ficará certamente como património essencial para a futura história local.

Mas quem, num clima onde reinam tantos invejosos inúteis, com sentimentos de classe de outros tempos, se dá conta desta empresa magnífica? Quem o felicita por este trabalho de que ele, sozinho, assume os constrangimentos? Triste Fundão em que só a “cultura” de tasca do futebol e da politiquice ocupa largamente o espírito dos cidadãos. Ou mais precisamente: dos residentes, porque a cidadania corresponde de facto a outra atitude sociocultural…


Comentários

  1. Vamos lá com calma que nem tudo está adormecido, há nestes lugares gente com vontade de não deixar adormecer as coisas. Muito do que colhi até hoje tem sido, solidariedade, reconhecimento com gestos bonitos e boas lições de história local...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Como é possível?!

O residente de Belém ganhou mesmo?

Deixem-me fazer uma confissão