Uma questão de princípios

J.-M. Nobre-Correia

Nunca tive alma de militante político! Ou mais exatamente: ser militante de um partido político nunca foi “ma tasse de thé”. Pela simples razão que sempre quis pensar pela minha cabeça e não alinhar em posições adotadas por instâncias dirigentes de um partido e seguir disciplinadamente o que elas decidiram. Mas, para que seja bem claro, até tenho uma certa admiração e respeito pelos militantes que se investem desinteressadamente na vida da “polis”.

Dito isto, a vida política sempre me interessou como observador exterior, como leitor de jornais e livros na matéria e como cidadão “engagé” em questões que considero fundamentais em termos de Democracia pluralista, de Estado de direito e de Justiça social. O que explica que uma das minhas formações académicas seja precisamente em ciências políticas. 

Não impede que, apesar de viver agora em Portugal, após uma vida académica como estudante e como profissional, inteiramente desenrolada prioritariamente no estrangeiro, eu continue a ignorar boa parte dos atores da vida política nacional e mesmo da vida política na terra das minhas origens. Isto para dizer que, nesta minha terra, poderei apenas dizer que sei quem são a advogada que foi a deputada do Partido Socialista e alguns membros do PSD, até porque são estes que se encontram agora no executivo municipal. Vivo longe dos círculos dirigentes dos dois principais partidos políticos a nível nacional como autárquico.

É claro que, como “observador engagé”, reajo muito naturalmente ao que se passa à minha volta. Com toda a diversidade de sentimentos possível de uma paleta bastante contrastada. Pelo que não posso deixar de dizer que o cartaz que hoje descobri na rotunda ao fundo da minha rua me chocou profundamente.

Primeiro porque nunca considerei que a abolição de portagens nas autoestradas pudesse constituir um assunto de real distinção entre posições de direita e de esquerda. Até porque na confrontação se “esquece” geralmente de lembrar que ou são apenas os utentes que pagam a construção e a manutenção com as receitas das portagens, ou são todos os cidadãos do país que as pagam sob a forma de impostos. E a partir daqui todo o tipo de argumentações é possível dando lugar às mais diversas demagogias. Chocou-me pois que o Partido Socialista (local?) possa ter feito a posteriori da abolição das portagens um argumento “de esquerda”…

Mas a segunda razão do meu choque foi ver o ataque frontal, “ad hominem”, com uma foto em grande plano da deputada do PSD originária da minha terra, por ela ter respeitado a “disciplina de voto” do seu partido e votado contra a abolição das portagens. Que a “disciplina de voto” seja uma prática política e eticamente detestável, não autoriza militantes de um partido rival a adotar práticas que emanam sobretudo de meios da extrema-direita. Para além de que há que lembrar aos autores desta torpeza que demasiadas personalidades do PS foram vítimas nestes últimos anos de uma “justiça de pelourinho” para não caírem irresponsavelmente em práticas democraticamente inaceitáveis…

  

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