Há entrevistas e "entrevistas"

J.-M. Nobre-Correia
Ver entrevistas nas televisões portuguesas é assistir a tristes espetáculos de gente que se toma por toureador ou treinador de futebol…
Eu sonho com o dia em que um personagem de primeiro plano (na política, na economia, na sociedade, na cultura…) que, ao ser entrevistado numa televisão portuguesa e esteja a ser constantemente interrompido, se levante e diga: eu pensava que vinha aqui para ser entrevistado, mas como é(são) o(s) senhor(es) que me está(ão) a expor as suas(vossas) opiniões sobre o assunto e a impedir-me de explicar o que quero dizer, e até mesmo a não permitir-me sequer concluir as frases que procuro pronunciar, peço desculpa, mas tenho mais que fazer e vou-me embora. E que abandone então ostensivamente a sala ou o estúdio…
Talvez o(s) dito(s) entrevistador(es) experimente(m) então um sentimento de vergonha e vá(ão) procurar um manual de jornalismo para tentar(em) saber em que consiste exatamente uma entrevista e que regras deverão ser tecnicamente observadas para conduzir uma conversa com o convidado. E, já agora, que num manual da boa educação aprenda(m) também a não interromper(em) constantemente o entrevistado e a não falar(em) ao mesmo tempo que ele…
Mas os personagens de primeiro (e até de segundo) plano(s) deste país habituaram-se a tudo. Acostumaram-se a todas as faltas da mais elementar correção da parte daqueles que possuem uma carteira profissional de jornalistas …e que são muitas vezes meros pavões exibicionistas. E, quantas vezes, estes pavões nem sequer têm qualquer competência no sector de atividade ou na especialidade do entrevistado de modo a fazer-lhe dizer algo de verdadeiramente essencial e inédito, suscetível de interessar os espectadores…

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