Começa o folhetim da nova campanha

 J.-M. Nobre-Correia

Quase ininterruptamente, os média, sobretudo as televisões, lançam peças mais ou menos alarmistas, pouco dignas do jornalismo…

Desde que vivo em Portugal que experimento cada vez mais o horrível sentimento de que as redações dos média foram largamente invadidas por gente que nunca frequentou verdadeiras escola de jornalismo, mas sim escolas de relações públicas, de animação social ou de propaganda.

Isto explica que os média “nacionais”, pequenos ou grandes, vão de campanha em campanha em campanha: ontem começou a do calendário da vacina anti-covid… Sem se preocuparem com o rigor da informação, sem verificarem previamente os factos, sem os fazerem interpretar por especialistas realmente conceituados. Dando a prioridade ao imediatismo e ao anúncio antes dos concorrentes, assim como às matérias suscetíveis de exaltar os ânimos do público. Privilegiando o clamor que o que anunciam poderá provocar, a repercussão que isso poderá ter nos outros média (que em princípio citá-los-ão) e a audiência que lhes poderá trazer…

No contexto sanitário, económico e social em que vivemos, os média querem lá saber das consequências que tal conceção da informação poderá ter na atualidade e no futuro potencialmente trágicos da pandemia que atravessamos! Descurando a distância e a serenidade que se impõem à prática de um jornalismo de qualidade, posicionam-se preferencialmente como anti-poder e não como contrapoder (seja qual for a natureza desse poder), os média em Portugal estão cada vez mais desgraçadamente a funcionar como agentes de disfuncionamento da sociedade e de desintegração da democracia.

Os atuais e futuros poderes legislativo e executivo não poderão, pois, continuar a fazer a economia de uma reflexão de fundo urgentíssima sobre o estado dos média e da informação jornalística em Portugal. A que deverá imperativamente seguir-se a elaboração de uma legislação adequada à evolução da paisagem mediática como das tecnologias da informação e da comunicação nos últimos decénios. Porque, globalmente, a situação é há demasiado tempo claramente insatisfatória e extremamente preocupante no que diz respeito à fragilização da democracia e do Estado de direito exercida em permanência pela informação de guerrilha prosélita que nos é proposta…


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