Mensagens

A mostrar mensagens de 2024

Média e jornalismo em democracia

Imagem
J.-M. Nobre-Correia   Será a informação a que temos direito de natureza a nos permitir ser cidadãos no mais amplo sentido do termo?…   É preciso ler, ouvir e ver média de países da nossa própria área geográfica e cultural para nos darmos conta até que ponto a informação jornalística vai mal no “país à beira-mar plantado”. Ou melhor: não espreitá-los apenas de raspão, mas frequentá-los assiduamente com a devida atenção crítica. E procurar então compreender o porquê da situação em Portugal. Oh!, as insuficiências da informação jornalística vêm de longe, consequência de um velho país cedo ultracentralizado, vivendo durante séculos num analfabetismo largamente enraizado e naturalmente desprovido de preocupações culturais. A sua paisagem mediática nasceu assim disforme, praticamente circunscrita a uma estreita faixa do litoral Centro-Norte, tendo como ponto de apoio Lisboa e muito acessoriamente o Porto. Acrescentemos a tais dados de base o facto de os mecanismos de controlo da cri...

Conceber uma ambição para a Lusa - 3

No seguimento da publicação aqui (em 16 de agosto) do meu artigo publicado no "Expresso" de 15 de agosto e do texto de um Leitor (não identificado, mas do meu conhecimento, em 19 de agosto), recebi de Afonso Camões (que foi administrador não executivo da Lusa entre 2005 e 2009, e presidente e administrador executivo entre 2009 e 2014) um longo texto que já tem alguns anos mas que continua a ter grande interessante para compreender a importância da Lusa no contexto mediático nacional e lusófono… ••••• […] Cheguei à Lusa no outono de 2005, nomeado como administrador não executivo, em representação do acionista Lusomundo Média, designação do maior acionista privado da agência, que mudou posteriormente para Controlinveste e, depois ainda, para Global Media Group. Em princípios de 2009, fui eleito pela primeira vez presidente e administrador executivo, pela unanimidade dos acionistas, em assembleia geral, tendo sido reconduzido para novo mandato em 2012. Quando em outubro de 2014 ...

Conceber uma ambição para a Lusa - 2

Um Leitor altamente conhecedor do funcionamento da agência Lusa endereçou-me uma reação ao artigo que publiquei no "Expresso" de quinta-feira 15 de agosto. Porque considero o seu texto extremamente interessante, pedi-lhe para o poder publicar aqui no meu blogue, limitando-me a suprimir, com o consentimento dele, dois curtos parágrafos iniciais e outro final de caráter mais pessoal, e a não indicar o nome do Autor. Aqui fica esta importantíssima contribuição para um debate sobre o futuro da agência de informação em língua portuguesa… ••••• "[…] não posso deixar de lhe dizer o seguinte:   Do meu ponto de vista fez o Estado muito bem em comprar a quase totalidade do capital da Lusa. E só não é a totalidade porque há acionistas que estão desaparecidos em combate, faliram ou pura e simplesmente desapareceram.   E porque fez bem o Estado? Porque pura e simplesmente os privados não vêem qualquer interesse em manter-se como acionistas da Lusa e, para a Lusa, esses acionistas não...

Conceber uma ambição para a Lusa

Imagem
Portugal não pode contentar-se em dispor de uma agência de informação tão limitada no seu perímetro de ação…   J.-M. Nobre-Correia No último dia de julho, o Estado compra participações de acionistas privados na agência  Lusa  e passa a deter 95,86% do seu capital. Notícia que cai na indiferença geral de um país em férias. E até mesmo numa relativa distração dos média, quando  Lusa  dispõe em Portugal de um estatuto de monopólio de facto como agência de informação geral. Quando em boa parte dos países vizinhos, a grande agência nacional de informação conta com uma ou mais concorrentes que lhe disputam clientes, propondo abordagens diferentes da atualidade. Que esta alteração de fundo não tenha “provocado ondas”, traduz bem a inconsistência de um meio político que, na sua maioria, prefere média canalizadores de comunicação oficiosa e não vigilantes atentos e críticos da atualidade. Mas é também o reflexo de um panorama mediático nacional particularmente pobre. Com...

Uma questão de princípios

J.-M. Nobre-Correia Nunca tive alma de militante político! Ou mais exatamente: ser militante de um partido político nunca foi “ma tasse de thé”. Pela simples razão que sempre quis pensar pela minha cabeça e não alinhar em posições adotadas por instâncias dirigentes de um partido e seguir disciplinadamente o que elas decidiram. Mas, para que seja bem claro, até tenho uma certa admiração e respeito pelos militantes que se investem desinteressadamente na vida da “polis”. Dito isto, a vida política sempre me interessou como observador exterior, como leitor de jornais e livros na matéria e como cidadão “engagé” em questões que considero fundamentais em termos de Democracia pluralista, de Estado de direito e de Justiça social. O que explica que uma das minhas formações académicas seja precisamente em ciências políticas.  Não impede que, apesar de viver agora em Portugal, após uma vida académica como estudante e como profissional, inteiramente desenrolada prioritariamente no estrangeiro, ...

Os discretos talentos de um homem

Imagem
nova versão ligeiramente ampliada J.-M. Nobre-Correia Na brutalidade clássica das chamadas redes sociais, surge a notícia: faleceu o Diamantino Gonçalves! Assim: de maneira totalmente imprevisível, como só a Morte tem a ousadia e a cobardia de fazer. Quando até ainda há poucos dias o sereno sorriso (quase) permanente do Diamantino iluminava sempre os nossos encontros programados ou imprevistos… Diamantino Gonçalves era um ser magnífico. Um apaixonado pela história local que o levava muito longe, bem para lá dos contornos naturais da Cova da Beira. Uma história sobre a qual pesquisava, dando-nos a conhecer documentos particularmente originais e de manifesto interesse, fazendo-nos descobrir lugares, personagens e momentos singulares. Mas era também e sobretudo um brilhante fotógrafo, pelos temas, os enquadramentos e a luminosidade que tinha o talento de escolher na sua captação das imagens, quantas vezes, de uma formidável e delicada beleza… Diamantino Gonçalves era também um homem de co...

Os discretos talentos de um homem

J.-M. Nobre-Correia Na brutalidade clássica das chamadas redes sociais, surge a notícia: faleceu o Diamantino Gonçalves! Assim: de maneira totalmente imprevisível, como só a Morte tem a ousadia e a cobardia de fazer. Quando até ainda há poucos dias o sereno sorriso (quase) permanente do Diamantino iluminava sempre os nossos encontros programados ou imprevistos… Diamantino Gonçalves era um ser magnífico. Um apaixonado pela história local que o levava muito longe, bem para lá dos contornos naturais da Cova da Beira. Uma história sobre a qual pesquisava, dando-nos a conhecer documentos particularmente originais e de manifesto interesse. Mas era também e sobretudo um brilhante fotógrafo, pelos temas, os enquadramentos e a luminosidade que tinha o talento de escolher na sua captação das imagens. Diamantino Gonçalves era também um homem de convicções fortes e afirmadas sem rodeios, perante o ceticismo e as opiniões eventualmente divergentes do seu interlocutor. Diamantino Gonçalves fará falt...

Das cortinas de fumo como estratégia

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Na atualidade dos últimos meses, há assuntos realmente importantes e os que só têm como razão de ser fazê-los esquecer…  É possível que o assunto faça objeto de conversas entre profissionais à mesa de café, em cenáculos menos restritos ou até em salas de redação. Nada porém transpira, que se saiba, para fora destes possíveis círculos. Estamos no entanto há meses perante uma situação altamente preocupante em termos políticos como jornalísticos. Quando até é bem conhecido este mecanismo de distorção da informação que procura atenuar ou escamotear factos realmente importantes…   A teoria é clara: um pseudoacontecimento é criado por um ator ou instância de poder, de modo a atenuar o impacto de uma informação desfavorável (é a primeira hipótese) ou a escamotear o verdadeiro acontecimento com incidências bastante negativas (segunda hipótese). E os exemplos têm abundado em diversos países, nas mais diversas situações. Quando em finais dos anos 1960, os Estados Uni...

Une sorte de nostalgie

J.-M. Nobre-Correia Puis-je faire un aveu?… Je cherche tous les jours à voir le journal télévisé (le jité) de 13h00 de la RTBF 1!… D'abord parce que, du fait de la différence d'heure, le JT de la RTBF arrive à 12h00 portugaise et donc avant les principaux journaux des télévisions généralistes portugaises… Ensuite, j'ai quand même vécu peut-être beaucoup plus longtemps dans mon autre pays, la Belgique (45 ans et 3 mois), que dans celui où je suis né, le Portugal. Et j'ai donc envie de savoir ce qui se passe dans ce pays qui est aussi le mien et où je connais tant de gens dont parle le JT et j'ai mes meilleurs amis… Puis, il me plait d'être informé par un journal conçu autrement, qui aborde l'actualité dans une démarche et un ton bien plus sereins que par les télévisions portugaise. Enfin, last but not least, j'y vois et entends chaque fois d'anciens étudiants, 12, 20, 30, 40, 50 ans après. Et, très curieusement, je me souviens toujours d'eux, de l...

As gémeas brasileiras de novo

J.-M. Nobre-Correia Depois das eleições e da entrada em funções do novo governo, a maneira como os média voltam agora a tratar o assunto das gémeas brasileiras deixa claramente transparecer a omnipresença do golpista incontinente de Belém na filtragem da informação a que temos direito… Assim se vai afundando a credibilidade do jornalismo em Portugal: pobres de nós, simples cidadãos!… ADENDA: uma hora depois de ter escrito estas linhas, chega-me às mãos a edição de hoje do  Expresso  que põe particularmente em evidência uma série de intervenções dos serviços de Belém neste dossiê: aleluia!…  

Fatores claramente determinantes

J.-M. Nobre-Correia Inicia-se hoje uma nova etapa da vida política portuguesa. Como seremos doravante informados pelos média?… Num artigo publicado hoje na edição do diário parisiense  Le Monde  sobre a situação dos média na Hungria de Viktor Orban e aquela que corre o risco de se afirmar em França, por iniciativa do multimilionário Vincent Bolloré, é citado o diretor de gabinete do primeiro: “Aquele que controla os média de um país decide quem controla o pensamento deste país e, assim, quem controla este país”. Uma afirmação que deveria fazer refletir sobre a situação em Portugal… Que se saiba, os média são há longos anos dominados em Portugal por gente próxima da direita e mesmo da extrema-direita. E são-no em termos de propriedade, de direções da informação e da programação, como de jornalistas com um certo peso na hierarquia das redações para não falar sequer da chusma omnipresente de “comentadores” de todo o tipo. O que não quer dizer que boa parte deles sejam de modo alg...

O plano de urgência que se impõe

Imagem
J.-M. Nobre-Correia Fala-se muito do futuro do grupo proprietário do  Diário de Notícias  e do próprio jornal, quando as razões para os salvar são por demais evidentes… Iremos nós ficar ainda mais pobres? É que a paisagem da imprensa de informação geral em Portugal é já singularmente mísera. Sobretudo a da imprensa diária. Com a área e a demografia que são as suas, Portugal conta inacreditavelmente menos diários generalistas do que países europeus até mais pequenos como a Bélgica, a Suíça, a Áustria, por exemplo. Ora os dois primeiros contam populações de diferentes línguas. E, se excetuarmos o romanche suíço ultraminoritário, nenhum deles dispõe de língua própria, recorrendo à(s) de países limítrofes. Pelo que o potencial de difusão da imprensa nas diversas regiões linguísticas é limitado. Não impede que neles haja diários com por vezes centenas de milhares de exemplares de difusão paga, apesar de os seus cidadãos poderem preferir ler os dos grandes vizinhos e não os do própr...