Conceber uma ambição para a Lusa - 2

Um Leitor altamente conhecedor do funcionamento da agência Lusa endereçou-me uma reação ao artigo que publiquei no "Expresso" de quinta-feira 15 de agosto. Porque considero o seu texto extremamente interessante, pedi-lhe para o poder publicar aqui no meu blogue, limitando-me a suprimir, com o consentimento dele, dois curtos parágrafos iniciais e outro final de caráter mais pessoal, e a não indicar o nome do Autor.

Aqui fica esta importantíssima contribuição para um debate sobre o futuro da agência de informação em língua portuguesa…

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"[…] não posso deixar de lhe dizer o seguinte:

 

Do meu ponto de vista fez o Estado muito bem em comprar a quase totalidade do capital da Lusa. E só não é a totalidade porque há acionistas que estão desaparecidos em combate, faliram ou pura e simplesmente desapareceram.

 

E porque fez bem o Estado? Porque pura e simplesmente os privados não vêem qualquer interesse em manter-se como acionistas da Lusa e, para a Lusa, esses acionistas não trazem nada, nem financiamento (desde a fundação da Lusa que nunca os privados meteram mais um cêntimo na empresa) nem outro tipo de contributos. Remetem-se ao aparecimento nas assembleias gerais para aprovar as contas ou a aparecerem nas reuniões do conselho de administração, onde são não executivos, e ficam calados ou perguntam por algum aspeto específico do relatório e contas. Sobre estratégia, zero. Sobre futuro, zero. Sobre novas formas de financiamento, zero.

 

Por isso, meu caro Professor, a sua generosa ideia de interessar mais entidades privadas e instituições a serem acionistas da Lusa é, do meu ponto de vista, totalmente votada ao fracasso – a não ser que o Estado dê de graça ações a esses acionistas…

 

Segundo ponto: a Lusa tem o monopólio da informação através da única agência nacional em Portugal. Tem, mas não tinha. Houve algures um momento em que havia duas agências nacionais no país, a ANOP, pública, e a NP – Notícias de Portugal, detida por uma cooperativa de privados. E o que aconteceu? Os privados viram que uma agência a sério exige muito dinheiro e não se consegue rentabilizar. Vai daí, quando o dr. Pinto Balsemão foi primeiro-ministro pediram-lhe para fusionar as duas – e assim nasceu a Lusa, com os privados a livrarem-se do sarilho onde se tinham metido.

 

Nada na legislação portuguesa impede o aparecimento de uma nova agência de notícias independente do Estado. Ela só não aparece porque exige um financiamento no mínimo de 18 milhões por ano para cumprir as funções de serviço público que lhe são atribuídas – a saber, a cobertura de todo o território nacional, ilhas incluídas, delegados em todas as capitais africanas de língua portuguesa, bem como em Macau, Timor e Brasil, além de uma ampla rede de correspondentes em Bruxelas, Paris, Londres, Moscovo, Pequim e estou seguramente a esquecer-me de algumas. Ora se isto não é uma agência de dimensão média, que compara bem com as suas congéneres idênticas e que sobretudo faz um trabalho que mais nenhuma agência internacional faz – notícias em português sobre o mundo lusófono – então não sei o que é uma agência de dimensão média, com 250 trabalhadores espalhados pelo mundo, dos quais apenas 30 são administrativos.

 

O texto já vai longo, mas quero dizer apenas mais uma coisa. O Governo escolhe o presidente do CA da Lusa. O presidente do CA escolhe o diretor de informação. Mas a partir daí o seu poder acaba. O DI é soberano em todas as suas decisões editoriais, com uma única exceção: a nomeação dos delegados tem de obter o parecer positivo do CA. Mas no dia a dia, no que se escreve, no que se escolhe cobrir, o CA nada pode e o Governo também não. E passar a mensagem que os jornalistas da agência curvam a cerviz e fazem jeitos ao governo de plantão é muito incorreto.

 

E é só, meu caro Professor. Espero que não tenha ficado agastado. Só temos uma agência portuguesa, só vamos continuar a ter esta e que se conserve por muito tempo em defesa da coesão social do país, da língua portuguesa e dos interesses de Portugal no exterior.


[…]"

 

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