Dois exemplos vindos de Itália

J.-M. Nobre-Correia
Numa paisagem impressa e digital bastante prolífica, nasce um novo diário, partindo de algumas ideias inspiradoras…
Há países onde, uns atrás dos outros, os jornais vão morrendo (em Portugal, por exemplo) e outros onde continuam a ser lançados novos jornais (na Itália, no caso em apreço).
Nasceu assim ontem em Roma o novo diário Domani (Amanhã). E duas notas são a reter no editorial de apresentação. Diz a primeira: “Os jornais imparciais não existem, os honestos declaram as próprias preferências”. Contrariamente ao que pretendem todos os “grandes” jornais portugueses que se dizem independentes e pluralistas, e são no fim de contas melting pots (caldeirões, misturas) incapazes de afirmar opções claras em momentos decisivos da vida nacional ou dos tempos incertos que vivemos. E, por isso mesmo, bastante incapazes de suscitar adesão por parte de potenciais leitores e sobretudo de potenciais compradores.
Diz outro parágrafo do editorial: “Domani nasce da iniciativa de Carlo De Benedetti, distante há muito de interesses empresariais, que financiou a sociedade editorial. Depois da fase de lançamento, as ações passarão para uma fundação que garantirá recursos e autonomia. O objetivo único da empresa (e da fundação) é realizar este jornal”. A idade avançando, De Benedetti (85 anos) cedera os seus interesses empresariais aos filhos. E estes cederam os jornais do grupo (entre os quais o diário La Repubblica) aos Agnelli, proprietários da Fiat (e já que estamos em Portugal: …e da Juventus!). Um La Repubblica que se vai afastando cada vez com mais evidência das posições de centro-esquerda que eram as suas quando do lançamento em 14 de janeiro de 1976.
Carlo De Benedetti toma assim duas iniciativas que deveriam inspirar os que dominam os meios económicos portugueses: estar na origem de novos jornais, de modo a que o pluralismo da imprensa não seja pura e triste ilusão, mas sim realidade colorida, contrastada e democraticamente dinâmica. E permitir que jornais existentes se constituam em fundações, autónomas e financeiramente viáveis. Um modelo que deveria inspirar a Sonae e a família Azevedo no que respeita o futuro do Público. Mas um modelo que poderia também suscitar generosos amadores para salvar o Diário de Notícias de um destino que parece cada vez mais tragicamente sombrio…

Primeira página do número 1 do diário Domani, lançado na terça-feira 15 de setembro de 2020, 20 páginas, vendido nas bancas a 1 euro.

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