Há cartas e cartas! E “especialistas”…

J.-M. Nobre-Correia

Uma vez mais, o telejornal das 13h00 da RTP propôs-nos uma abertura sobre o seu inevitável covid que durou até às 13h29! E, na abordagem deste tema, tivemos direito a uma longa sequência sobre a “carta aberta” de uma centena de “especialistas” que preconizam a reabertura das escolas. “Especialistas”? Especialistas em quê? Quantos médicos havia por lá que manifestamente não devem ter absolutamente competência nenhuma em matéria de virologia, de infectologia e de pandemia! E quantos outros subscritores com formações académicas que nada têm a ver com as ciências da saúde! Para não falar nos tudólogos que, como se sabe, são competentes em toda a espécie de matérias!

O telejornal propôs-nos aliás um “direto” com uma economista que se transformou num interminável monólogo, mas que, no fim, ficou “obrigadíssima” à RTP. Pudera: a RTP contribuiu assim para aumentar a sua visibilidade de tudóloga mediática.

No mesmo dia em que foi publicada esta “carta aberta” foi publicada outra que critica o tratamento da atualidade da pandemia pelas “televisões generalistas portuguesas”, “carta aberta” esta a que o telejornal da RTP não fez qualquer referência: em 1h18 de jornal não houve tempo para isso! Ironicamente, chama-se a isto: independência, neutralidade, rigor! Como se chama ironicamente “televisão de serviço público” a esta fornecedora de imagens e sons de muito baixa qualidade. Mas o facto é que continuamos a pagar por isto, perante a manifesta indiferença dos poderes legislativo e executivo deste pobre país…(O facto de eu ser um dos iniciadores, co-autores e subscritores da “carta “aberta às televisões generalistas nacionais” não afeta em nada o apontamento que assino aqui).

Professor emérito de Informação e Comunicação da Université Libre de Bruxelles, autor do livro Média, Informação e Democracia (Almedina).

  

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