Dinamismo e bandalheira

J.-M. Nobre-Correia

Numa localidade promovida a cidade há 33 anos, o dinamismo autárquico é essencial. Mas o civismo também o é…

Nestes últimos nove anos, pelo menos, nunca tal dinamismo foi tão evidente: no centro do Fundão, a construção civil está em grande atividade. É a construção do novo grande edifício na “Avenida” (com varandas provavelmente largas de mais) e de outro por detrás, na Rua António Paulouro. É a reabilitação do Cine-Teatro Gardunha, tristemente deixado ao abandono há tantos anos, e a que vem agora juntar-se o espaço ao lado, na Rua Jornal do Fundão. É a reabilitação do Palácio Tudela, na Praça Velha, também ele desleixado há demasiados anos (embora haja que recear que o “fachadismo” dominante tenha sacrificado uma arquitetura e uma decoração talvez interessantes). É a construção entre a Casa Gascão e a Praça Municipal (mas o espaço é de tal modo exíguo que a criatividade arquitetural será bem necessária). É, um pouco mais longe, a transformação em alojamentos dos dois edifícios na Rua José da Cunha Taborda, onde funcionou, em tempos de salazarismo, o Grémio da Lavoura. Um evidente dinamismo de iniciativa autárquica que transformará (agradavelmente, espera-se) a face urbanística e arquitetónica do Fundão, suprimindo tristes situações de ruína e de descampados em plena cidade.

Mas depois há também a bandalheira praticada por demasiados cidadãos. Com uma desprezível desenvoltura em relação à lei, aos espaços públicos e aos direitos dos outros cidadãos. Para além de muitas outras situações deste tipo em diversos lugares da cidade, o Fundão conta assim com três emblemáticas praças centrais transformadas em espaços de estacionamento automóvel. A Praça Velha atualmente escapa um pouco (mas nem sempre) a este destino, dadas os tapumes colocados para as obras no Palácio Tudela. Na Praça do Município, havia hoje, por voltas das 11h50, exatissimamente 20 carros estacionados, embora lá estejam sinalizações indicando a proibição, “exceto [para] cargas e descargas”. No Largo Dr. Alfredo da Cunha, contíguo ao Adro da Igreja Matriz, estavam lá, à mesma hora 15 automóveis. Mas que fazem a autarquia e a GNR perante tal situação diariamente repetida por indivíduos desprovidos do menor escrúpulo?

Para boa parte dos portugueses, liberdade e democracia significam direito à bandalheira, ao não respeito da lei e à ausência da mais elementar consideração por quem não faz parte do seu relacionamento imediato (familiar, amical e social). Até porque, para eles, os direitos de que usufruem não supõem de modo algum deveres. Mal vai, porém, uma democracia em que demasiados cidadãos pensam e agem assim, até porque a fragilidade de tal democracia tem grande probabilidades de vir a manifestar-se de modo muito preocupante…



 

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