Dez anos depois…

J.-M. Nobre-Correia

Faz hoje dez anos que passei a residir em Portugal, depois de ter vivido 45 anos e três meses, muito precisamente, em Bruxelas.

Dez anos depois, nunca me arrependi de ter regressado. Embora a sociabilidade em terra portuguesa já não seja o que era nos anos 1960. Embora os sentimentos de rivalidade e de inveja estejam agora bastante disseminados. Embora o peso dos clãs de poder de toda a ordem seja triste e aflitivamente evidente…

É verdade que os meus melhores amigos continuam a viver para além dos Pirenéus. Mas há felizmente agora todas estas novas tecnologias que me permitem conversar com amigos residentes longe, vendo-os. Durante o tempo que se quiser e gratuitamente!…

Que diferença com o que eram as comunicações pessoais quando fui para o exílio! O meu primeiro telefonema para a família dei-o nove, dez meses depois de ter chegado a Bruxelas. E foi preciso ir aos Correios ao lado da Estação de Etterbeek, pedir à operadora o número do telefone fixo em Portugal, esperar longos, longos minutos e pagar depois uma pequena fortuna por brevíssimos momentos de conversa.

Esta conversa telefónica era, sabíamo-lo bem, atentamente escutada pelos serviços da Pide. Como era lido pelos mesmos serviços o correio enviado para Portugal, muitas cartas não chegando sequer aos destinatários, sobretudo se continham dados de informação e fotografias que permitiriam atualizar os ficheiros da Pide: tristes tempos esses de salazarismo! Felizes tempos aqueles em que vivemos, sejam quais forem as críticas que tenhamos a fazer à nossa democracia imperfeita!…

  

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