Alargar o ângulo de abordagem

J.-M. Nobre-Correia

Leitor, ouvinte e espectador quotidiano de média de referência de pelo menos quatro ou cinco países europeus, sou regularmente surpreendido com certas práticas do jornalismo português. A dada altura, passei assim a fazer “capturas” nas edições digitais destes média para as inserir na minha página no Facebook. Depois comecei a pôr-lhes um mesmo título geral: “Portugal não é uma ilha…”, acrescentando-lhe mais recentemente um subtítulo mais explícito: "…embora haja quem queira fazer crer o contrário…"

O que eu pretendo com estas “capturas” não é relativizar os acontecimentos em Portugal, mas sim pôr em evidência a regular ausência de uma perspetiva mais alargada no jornalismo que se pratica entre nós. Para os média portugueses (de maneira geral), o que se passa em permanência neste país é uma desgraça, um caos, um somatório de incompetências de que os mandatários políticos, a administração pública e sobretudo o governo em funções são os primeiros responsáveis…

Propõem então aos cidadãos deste país uma leitura dos acontecimentos sem quase nunca procurarem alargar o terreno de observação e ver o que se passa para além da fronteira, de modo a poderem compreender e fazerem compreender que a situação, o problema, a dificuldade, afinal nem sempre é de caráter interno, meramente caseiro, paroquial, bem nosso. Que outras localidades, regiões ou países estão igualmente confrontados a acontecimentos idênticos ou pelo menos comparáveis. E que, no fim de contas, as causas de tal desgraça, de tal caos, até nem têm nada ou têm muito pouco de especificamente nacional e são muitas vezes bastante diferentes daquilo que muitos dos nossos jornalistas pretendem, proclamam ou insinuam…

Claro que, alargar o ângulo de abordagem dos acontecimentos e situações, supõe da parte dos jornalistas espírito crítico, curiosidade intelectual e sobrecarga de trabalho. O que é muito, e mesmo demasiado, pedir a quem prefere boa parte das vezes responder às necessidades de informação dos cidadãos com verdades que as próprias redações preferem fabricar sem grande fadiga e nem muitos escrúpulos, sobretudo se não dispuserem dos meios materiais e humanos indispensáveis…

 

Comentários

  1. São muitos os meios de comunicação mas poucas as exceções. Pandemia, que parece ter passado e não passou, a seguir guerra que também não passou foi substituída pelos incêndios. E no Mundo o que se passa?
    E agora já há cursos de jornalismo ...

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