Saber “tirar as castanhas do lume”

J.-M. Nobre-Correia

Luís Paixão Martins tem sobre a grande maioria de outros autores de livros três grandes trunfos [“atouts”]: foi jornalista (em agência, em jornal diário e em rádio), passou para o outro lado da barricada e criou uma agência de comunicação de sucesso (LPM Comunicação), e nasceu e viveu sempre em Lisboa. O que quer dizer que conhece certamente o microcosmo mediático-jornalístico bem melhor do que esses outros autores. O que constitui a priori uma grande vantagem…

Esta grande vantagem foi magnificamente ilustrada nestes últimos dias, com o que se assemelha claramente a um “plano média” delineado por mão de mestre. Assim, nos últimos dias de setembro, começa Paixão Martins por nos anunciar repetidamente em “redes sociais” a publicação de um novo livro, Como mentem as sondagens. Bem cedo, mas já em outubro, anuncia também a apresentação do livro para sábado 28, ao fim da tarde, num importante centro comercial de Lisboa, por nada menos do que uma ministra do atual governo e um conhecido tudólogo. Depois, como por encanto, na véspera desta apresentação, o Expresso de sexta-feira 27 consagra-lhe uma página e meia na sua “revista”. E no sábado 28, coincidência perfeitamente inaudita, os dois diários “de referência”, publicam entrevistas do dito autor: uma página inteira no Diário de Notícias (com chamada na primeira página) e uma página e meia no Público, antes da apresentação nesse mesmo dia em Lisboa. Antes de outra apresentação prevista para o dia seguinte, domingo 29, na Feira do Livro e do Disco Políticos, em Setúbal, precedendo o encerramento oficial. Enquanto uma nova apresentação está prevista para este fim de semana no Porto, com nada menos do que o ex-presidente do partido de direita, a diretora do portuense Jornal de Notícias e uma apresentadora de telejornal da RTP. Outras apresentações estão também já anunciadas. E isto para não falar de referências ao dito livro em emissões de rádio e de televisão por diversas eminências tudológicas…

Digam lá depois que as agências e os especialistas de comunicação não sabem perfeitamente manobrar os cordelinhos de acesso aos média de informação deste país? Os francófonos chamam a isto “savoir tirer les marrons du feu” [saber tirar as castanhas do lume], o que é claramente adequado não só à época atual, mas ilustra também bem um funcionamento bastante generalizado no jornalismo português…

 

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