Os horizontes de uma ambição

J.-M. Nobre-Correia

Detida pelo Estado e um grupo privado, a situação da agência Lusa é pouco favorável à sua desejável expansão…

O artigo que publiquei no Público[1] a propósito das mudanças anunciadas no capital da Vasp e da Lusa, suscitou algumas interrogações, sobretudo a respeito da agência de informação. Concretamente, como fazer que a Lusa possa vir a ser uma grande agência internacional de língua portuguesa? Isto é: uma agência capaz de cobrir a atualidade no mundo e de interessar média, instituições e empresas dos países de língua portuguesa?

primeira iniciativa deveria ser a de reforçar o capital da agência alargando significativamente o leque dos acionistas por intermédio de uma série de sociedades que representem (os) diferentes tipos de clientes :

> uma sociedade que reagrupe

            • a imprensa nacional e regional de informação jornalística,

            • as rádios nacionais e regionais,

            • as televisões nacionais e regionais,

            • os jornais em linha de informação jornalística.

> uma sociedade que reagrupe (os) média dos (de) países lusófonos,

> uma sociedade que reagrupe grandes empresas clientes da agência,

> uma sociedade que reagrupe grandes fundações e outras grandes instituições ligadas à cultura,

> o Estado português (via ministérios, embaixadas e autarquias).

Poderíamos então imaginar um guião em que

> o Estado, como antigo acionista maioritário e como garante do pluralismo, conservaria digamos 40 % do capital,

> cada uma das outras sociedades deteria 15 %

ou então

> o Estado deteria 40%,

> os país lusófonos, as empresas e a fundações-instituições deteriam 30partilhados entre eles,

> a sociedade que reagrupa os média deteria 30% partilhados entre eles.

O Estado não poderia, pois, decidir unilateralmente da administração da agência. E nenhuma das outras sociedades acionistas teria a possibilidade de impor a sua vontade, sem se entender com outros acionistas para que possa ser tomada uma decisão maioritária.

O princípio de guião seria este. Mas é claro que tanto as diferentes componentes do capital como as percentagens detidas no capital poderiam ser devidamente adaptadas em função de outras considerações ou necessidades.

Que “contrapartidas” poderiam esperar os diferentes novos acionistas ao darem entrada no capital da Lusa?Muito simplesmente o facto de poderem dispor de uma informação mais completa, abundante e diversificada em função das próprias necessidades de cada um dos sectores (média, empresas e instituições) presentes. O que suporia uma presença alargada “no terreno”, tanto em Portugal como nos outros países de língua portuguesa, assim como em grandes capitais através do mundo e nos países em que as “diásporas” lusófonas são suficientemente importantes.

A grande ambição seria que existisse no mundo uma grande agência internacional de língua portuguesa, fosse embora necessário encarar a hipótese de (uma) aliança(s) com (uma) agência(s) existente(s) para que o projeto pudesse tomar uma maior extensão e importância



[1] “Interrogações que se querem evitar”, in Público, Lisboa, 9 de janeiro de 2021, p. 16. Retomado aqui no Notas de Circunstância 2 na mesma data.

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