Deixem-me fazer uma confissão!…

J.-M. Nobre-Correia

Amanhã vou (antecipadamente) votar. E deixem-me fazer-lhes uma confissão: pela primeira vez na vida, em eleições belgas ou portuguesas, vou votar em alguém que não é exatamente do meu agrado. Mas vou votar seguindo um raciocínio tático e direi até estratégico que vale o que vale, mas é o meu.

Vou votar, primeiro, contra o candidato da extrema direita fascistoide, o que é uma evidência para mim e o que nem sequer merece mais explicações da minha parte. Direi apenas o que é uma evidência: quanto mais eleitores votarem nos outros candidatos, mais a percentagem de votos daquele indivíduo será reduzida.

Vou votar, em seguida, contra o atual detentor da função. Porque detesto esta omnipresença egocêntrica exibicionista de alguém que ultrapassa regularmente as suas funções de presidente da República, que procura mostrar que é ele que governa e faz (quando não governa nem faz), que não assume as suas responsabilidades quando deveria assumi-las (como em Tancos, por exemplo) e que não se priva de intrigar regularmente (como intrigou toda a sua vida como “comentador” na imprensa, na rádio e na televisão).

Votarei ainda contra o atual detentor da função porque estou convencido que, no segundo mandato, não se privará de assumir plenamente as suas origens ideológicas, de tentar reconstruir uma direita que entrou manifestamente em crise existencial e, por conseguinte, de destabilizar decididamente o governo atualmente em funções (esperando embora provavelmente pelo fim da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia). E, ao votarmos noutros candidatos, ele compreenderá que a sua maneira de conceber a presidência merece no mínimo reservas da parte de um número significativo de eleitores.

Não será, no entanto, preciso que, como dizem os francófonos, eu ponha amanhã uma mola no nariz no momento em que farei a minha escolha e meterei o meu voto na urna: não exageremos! Votarei porque acho que é o meu dever de cidadão de votar e sobretudo de exercer o meu direito de voto num país que tão arredado andou da democracia durante tantos e tantos anos. Mas será resignadamente um voto duplamente contra e não entusiasticamente um voto a favor


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