As descobertas que eles fazem !

 J.-M. Nobre-Correia

Por vezes, nos nossos média, irrompem assuntos que vimos depois a saber que nem sequer são novidade. Mas que foram ignorados…

Pois é: tristemente, a informação em Portugal é cada vez mais fruto de um jornalismo sentado, feito à base de computadores e de telemóveis. E concebido largamente a partir de comunicados e conferências de imprensa. Quando falam de repórteres e de reportagens, as nossas televisões (pois são elas que dominam em termos de cobertura da atualidade para a maioria da população) mostram-nos quase sempre uns jovenzitos que vão de micro em punho entrevistar sempre os mesmos tipos de personagens: os “chefes” de qualquer coisa, mais eventualmente o passante ali mesmo ao lado. Tudo isto em “diretos” realizados de preferência perto da redação e que dão muitas vezes lugar a cenas e a declarações caricatas. Dar-lhes o título de “repórter” é seguramente uma usurpação, até porque as reportagens no terreno, no sentido forte do termo, são extremamente raras.

Temos depois o jornalismo pomposamente classificado de investigação que é antes do mais um exercício de denunciação, manifestamente instrumentalizado por “fontes” interessadas no assunto. “Fontes” que agem geralmente por pura rivalidade, inveja ou maldade. “Investigações” que, para além da “informação” (no sentido policialesco do termo), pouco trabalho de verificação e de aprofundamento deram. E “investigações” que redundam mormente em sentenças que tresandam a remotos acórdãos da inquisição ou dos tribunais plenários de velhos tempos.

Admiremo-nos, pois, que, com tais práticas do menor esforço, promocional ou justiceiro, se descubra depois, um dia, que até há imigrantes em Portugal. E que há entre eles gente que entrou em Portugal abusada na confiança dela. Que vivem em condições miseráveis de salários e de habitação, ultra-explorados em condições que se assemelham por vezes à escravatura, sem o mínimo apoio em termos de assistência social e sanitária. E, claro, quando a pandemia os atinge, a grande preocupação daqueles que nos informam é ir dar a palavra aos que protestam contra as medidas (demasiado tardias) tomadas pela administração pública, mais a um destes bastonários sempre prontos para declarações políticas anti-governamentais. E os imigrantes ? E os defensores deles ? Ouviram-nos ? Procuram mostram-nos as condições concretas em que vivem ?…

É claro que se fala hoje de trabalhadores imigrantes. Mas falou-se ontem e anteontem de lares da terceira idade, de gente vivendo num isolamento e numa miséria atrozes, de     aldeias do interior vivendo fora do mundo e tantos e tantos mais assuntos. Assuntos que foram um dia de atualidade, porque um grave ou exótico acontecimento teve lugar com essa pobre gente, mas que caíram rapidamente no esquecimento. Porque o que é importante para eles, gente dos média, é seguir como uns carneirinhos dóceis e uns canalizadores fiéis as declarações do senhor presidente, dos ministros, dos líderes dos partidos (mesmo quando têm um só eleito no parlamento), dos bastonários e dos presidentes das mais diversas agremiações que dominam o país como se fora o feudo deles.

Quando se pratica um jornalismo calminho, oficioso, servidor de interesses dominantes e militante de causas próprias, é o que nos acontece a nós, pobres cidadãos consumidores de uma informação de baixo nível. Sem termos, hélas !, grandes possibilidades de escolha…

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Deixem-me fazer uma confissão

Como é possível?!

O residente de Belém ganhou mesmo?