Saber cantar o seu país…

J.-M. Nobre-Correia

O falecimento de Toto Cutugno surpreende-me e entristece-me. Pura coincidência: ainda ontem ouvi algumas das suas célebres canções, ignorando porém que ele se encontrava hospitalizado e nos seus últimos momentos de vida.

Cutugno foi um formidável cantautor, compositor, autor de textos de canções e até um animador de programas de divertimento televisivo (lembro-me bem dele quando dirigia “Domenica in” nas tardes de domingo da RAI Uno). Compôs e escreveu para vários cantores franceses e italianos de primeiro plano (gente desconhecida, é certo, num país chamado Portugal que passou tristemente a ser no plano musical uma colónia quase exclusiva do imperialismo anglo-estado-unidense!).

A canção mais célebre de Cutugno é certamente “L’Italiano”. Uma melodia que convida ao canto e à dança, e um maravilhoso texto descritivo da sociedade italiana, do seu funcionamento, dos seus hábitos e de …un partigiano come presidente. E até mesmo, para além da Península, da própria sociedade mediterrânica: não é aliás por acaso que a versão em francês da canção se intitula “Méditerranéenne”.

“L’Italiano” encanta-me tanto mais que a Itália, a sua cultura, a sua música (clássica e popular), as suas artes plásticas, o seu cinema e a sua literatura, as suas cidades e a as suas gentes me seduzem desde os anos 1960 (Buongiorno Mimma !). E até porque a Itália tem sido um extraordinário laboratório percursor em muitos aspetos (imprensa, rádio, televisão, política…) a que foram raramente dada a devida importância, mas que se repercutirão no entanto mais tarde no resto da Europa.

Há dias, dizia eu uma vez mais àquela que me ouve repetir tantas vezes certas ideias minhas, que me intrigava o facto de a Itália ter este “L’Italiano”, a Bélgica o formidável “Le Plat pays” de Jacques Brel (o tal “plat pays” que era o dele e é ainda o meu), a France o admirável “Ma France” de Jean Ferrat (mas que é também a minha mère nourricière cultural), mas não haver, que eu saiba, um canto popular que tenha por tema Portugal, as suas terras e as suas gentes. Que poderá significar tal ausência?…

  

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