Um jornalismo seguidista

J.-M. Nobre-Correia

Hoje, senti-me profissionalmente obrigado a lançar uma e outra olhadelas mais ou menos duradoiras às nossas televisões. Num dia de que ouviremos repetidamente falar durante algum tempo. E que será depois evocado em grandes ocasiões comemorativas do calendário da Igreja Católica e da vida nacional.

Fui assim levado uma vez mais a constatar que há uma contribuição de fundo portuguesa para os géneros jornalísticos em prática nas televisões: o dos longos acompanhamentos dos veículos, geralmente autocarros, que transportam altas personalidades, papas ou jogadores de futebol, por exemplo. Por ocasião da chegada deles a Lisboa, da deslocação das personalidades para os hotéis ou residências onde ficarão alojados, da ida depois destas para os destinos de acontecimentos importantes, do regresso do lugar deste acontecimento para outro de consagração dos seus heróis, e, por fim, da deslocação para o aeroporto quando as personalidades deixam finalmente Portugal. Momentos que, manifestamente, segundo as nossas televisões, são essenciais para a compreensão da sociedade contemporânea e da vida quotidiana dos cidadãos.

Chamemos-lhe pois: jornalismo seguidista. Um jornalismo que tem pouco de jornalístico, no sentido forte do termo, é verdade. Mas trata-se de um género fácil de praticar, pouquíssimo exigente em preparação de conteúdo pelos jornalistas, pondo em evidência a alegria exuberante do povo nas ruas, favorecendo intermináveis “diretos” e permitindo encher largamente tempo de antena e mesmo telejornais. As nossas sete televisões que estão a acompanhar em quase permanência os “peregrinos” das JMJ deveriam ousar propor tal género a um dos variados prémios internacional de jornalismo …para que os júris possam rir um pouco com esta contribuição nacional!…

 

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