Faz mesmo falta animar a malta?

J.-M. Nobre-Correia

Num tempo de eleições partidárias e legislativas, seria desejável que a prática jornalística fosse para além das “opiniões” e das sondagens…

Desde que o coautor e mesmo principal autor do golpe de Estado palaciano que o levou irresponsavelmente a dissolver uma vez mais a Assembleia da República, os nossos média andam num grande estado de excitação. Com as eleições internas do futuro secretário-geral do Partido Socialista. E com as anunciadas eleições legislativas de março.

Porém, em vez de mandarem para o terreno jornalistas competentes em matéria política, para indagarem como se desenrola a campanha interna no seio do PS, o que pensam os seus militantes e como regem aqueles que participarão nas eleições do futuro líder do partido, as redações tomam sobretudo dois tipos de iniciativas. Põem uns “colunistas” (quantas vezes meros achistas) a pontificar sobre o “Carneiro” (apelido) e o “Pedro Nuno” (nome próprio) — ignorando assim uma regra elementar do jornalismo. E, segunda hipótese, procuram pôr-se de acordo com outros média não concorrentes, de outro tipo, para partilharem os custos de sondagens.

O mesmo fazem em relação às distantes eleições legislativas. Abundam as “opiniões” e não tanto as análises histórica e sociologicamente fundamentadas de reconhecidos especialistas. Em vez de mandarem para o terreno jornalistas claramente competentes em matéria de reportagem, de investigação e de entrevista. Para nos proporem um balanço concreto da obra do governo “sortant”, com os seus aspetos positivos, (in)satisfatórios e negativos. E para auscultarem o estado da opinião, os encantos e desencantos das gentes deste país, aquilo que esperam do próximo governo, e até mesmo do futuro, em termos nacionais, locais e pessoais.

Mas as sondagens, elas, já começaram a surgir uma atrás das outras, a pretender mesmo dizer quem vai ganhar a três ou quatro meses de distância. Quando, em dois livros publicados este ano, Luís Paixão Martins disse em termos suficientemente claros o interesse e a reserva com que tais exercícios de auscultação deveriam ser acolhidos. Só que, para os média portugueses, provocar alarido e sensações emocionantes com sondagens, custa bem mais barato do que dispor de uma redação suficientemente numerosa, especializada e aguerrida para desenvolver a vasta empreitada jornalística que a atualidade deveria supor…

 

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