Os nossos “brandos costumes”

J.-M. Nobre-Correia

Os média portugueses ditos “nacionais” vão mudando de proprietários e de direções perante a indiferença geral dos “meios dirigentes”…

 

As grandes fortunas estão muitas vezes envoltas em mistérios. E era o caso da dos irmãos gémeos ingleses David e Frederick Barclay que, entre muitas outras atividades de negócios, tinham tomado o controlo em junho de 2004 de The Daily Telegraph e The Sunday Telegraph, célebres diário e semanário middle-market conservadores, propriedade até então do milionário canadiano Conrad Black.

Entretanto David Barclay faleceu, as dívidas da família Barclay foram-se acumulando. Pelo que o banco credor, Lloyds Bank, pôs à venda o grupo de imprensa. E entre os interessados surge RedBird IMI, de que são acionistas o fundo estado-unidense RedBird Capital e o fundo de Abu Dabi IMI (controlado de facto pelo sheik Mansour Ben Zayed), detendo este 75% do capital.

Em 29 de novembro, 18 deputados conservadores publicam uma carta aberta na qual afirmam que tal transação constitui “uma ameaça potencial muito real para a segurança nacional”. O que leva o governo britânico (de direita, recorde-se) a intervir, recorrendo em 30 de novembro ao Ofcom (Office of Communications) e à CMA (Competition and Markets Authority).

Estas duas entidades reguladoras deverão assim decidir se tal aquisição é de natureza a fazer correr um risco ao interesse público do Reino Unido, quer em termos de “apresentação justa das informações” quer da “liberdade de expressão nos jornais”.

Muito recentemente o grupo português Global Média foi objeto de profundas mudanças na composição do seu capital, como do seu conselho de administração e das direções de diferentes média, a que veio acrescentar-se um “despedimento coletivo” de 150 trabalhadores. Perante uma quase total indiferença da nossa Assembleia da República e do nosso governo. Num país que, contrariamente ao Reino Unido, quase já não conta com média que procedam a uma “apresentação justa das informações” e capazes de praticar uma desejável “liberdade de expressão”…

No pretenso “país de brandos costumes” a propriedade dos média está a saque, perante a indiferença geral

  

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