Reparos a propósito de entrevistas

J.-M. Nobre-Correia

Depois de ter visto quatro das cinco “entrevistas” da RTP 1 no quadro da campanha para as eleições presidenciais (não vi a do candidato de Iniciativa Liberal), queria aqui fazer uns breves reparos.

É uma evidência que a atitude do detentor da carteira de jornalista encarregado de tais emissões é totalmente inadmissível em termos de pura técnica jornalística. Mas é também absolutamente intolerável no que se refere ao respeito para com os “entrevistados” e também para com os espectadores, sobretudo numa televisão de “serviço público” paga pelos residentes neste país.

Se houvesse uma verdadeira direção da informação na RTP, competente e a exercer o seu papel com a devida autoridade, o entrevistador teria sido cuidadosamente escolhido. E depois de escolhido, teria sido devidamente instruído pela dita direção da informação sobre a maneira de exercer a missão para que fora escolhido.

É claro que, uma vez que exerceu com total incompetência e agressividade a primeira entrevista, era praticamente impossível que a direção da informação interviesse para “corrigir o tiro”, a supor que tivesse visto necessidade de o corrigir. Pela boa razão que isso levaria a uma diferença de comportamento em relação aos candidatos seguintes, o que não deixaria de provocar justificadas críticas, nomeadamente da parte dos apoiantes do primeiro candidato.

A este propósito, será particularmente interessante ver como será conduzida a entrevista com o candidato que exerce o atual mandato de presidente. E talvez conviesse, já agora, que nos interrogássemos sobre como foi decidida a ordem de passagem dos candidatos pelo estúdio da RTP: houve uma tiragem à sorte perante representantes de todos os candidatos ou foi a “direção da informação” que decidiu soberanamente, unilateralmente, deixando para o fim os candidatos dos partidos do poder (com o presidente atual na semana em que os cidadãos estão geralmente muito em casa, em família, e assistirão assim mais à emissão)?…

Pequena nota final: na Bélgica francófona, a rádio pública foi lançada em 1930 (cinco anos antes da Emissora Nacional) e a televisão pública em 1953 (quatro anos antes da RTP). Desde sempre reunidas numa única instituição, a atual RTBF (nove rádios e quatro televisões) conta desde sempre um único diretor da informação, a que veio juntar-se desde há poucos meses um adjunto. Na RTP há duas direções da informação: uma para a rádio e outra para a televisão. E a da televisão conta com um diretor, quatro diretores adjuntos e dois subdiretores, o que é muito bom para o curriculum vitæ e o ordenado de cada um deles! Quanto à qualidade da informação proposta…

 

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